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O mundo mudou. Só o COI não percebeu

A desistência de Budapeste para concorrer à Olimpíada de 2024 deveria provocar também uma profunda reflexão dentro do Comitê Olímpico Internacional

Acabou se confirmando nesta quarta-feira (22) a desistência de Budapeste em seguir na disputa para ser a sede dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos de 2024. A confirmação veio após a divulgação de uma declaração conjunta do primeiro ministro húngaro, Viktor Orbán, do prefeito de Budapeste, István Tarlós e do comitê olímpico húngaro. O motivo, também já comentado aqui no blog, foi o crescente movimento contrário para que a capital da Hungria seguisse na disputa.

O grupo político Momentum Mozgalom acabou sendo o grande vitorioso nesta queda de braço. Tudo graças às mais de 260 mil assinaturas necessárias para obrigar o governo convocar um plebiscito com objetivo de decidir se Budapeste deveria ou não seguir na disputa. Uma pesquisa divulgada nesta quarta por um instituto húngaro apontava que quase 52% dos cidadãos de Budapeste votariam hoje contra a realização dos Jogos. Em setembro do ano passado, esse percentual era de quase 32%.

Após a confirmação da desistência da candidatura, o comitê Budapeste 2024 colocou seu logo na cor preta no Facebook (Crédito: Reprodução)

Após a confirmação da desistência da candidatura, o comitê Budapeste 2024 colocou seu logo na cor preta no Facebook (Crédito: Reprodução)

Desta forma, seguirão na disputa somente Los Angeles e Paris, ambas tentando receber a sede da Olimpíada pela terceira vez. A eleição está marcada para 13 de setembro, em Lima (Peru), durante a Assembleia Geral do COI.

Antes que comecem a jogar pedras nos integrantes do Momentum Mozgalom, acusando-os de serem contra o movimento olímpico, uma reflexão importante: quando será que o COI (Comitê Olímpico Internacional) fará uma necessária autocrítica e perceber que o mundo mudou?

Pois não pode ser considerado normal que cada vez menos cidades sigam interessadas em participar das corridas eleitorais olímpicas. Pela segunda vez em uma eleição, o COI terá que engolir o vexame de ter apenas duas cidades na disputa. O mesmo já havia acontecido na eleição para a sede dos Jogos de Inverno de 2022, quando Pequim (que foi a escolhida) e Almaty chegaram à final.

COI em uma sinuca de bico

Para 2024, antes de Budapeste, Roma e Hamburgo também abdicaram de seguir na disputa. Na cidade alemã, inclusive, chegou a ser feito um referendo para sentir a aprovação da população. A resposta foi esmagadoramente negativa.

O fato é que organizar uma Olimpíada tornou-se um brinquedinho caro, repleto de exigências das federações internacionais. Por mais que envolvam milhões em retorno de ingressos, publicidade e direitos de televisão, os Jogos Olímpicos estão se tornando insustentáveis. E o aumento no número de modalidades, como acontecerá em Tóquio-2020, não ajuda em nada a diminuir a conta.

Para esta eleição de setembro, o COI acabou ficando numa bela sinuca de bico. Sem ter mais Budapeste na disputa, era a intenção de seu presidente, Thomas Bach, conceder a sede das duas próximas edições dos Jogos  (2024 e 2028) para Los Angeles e Paris. Mas esta manobra sofre resistência entre os próprios membros da entidade. Os argumentos são que isso fere os princípios da Carta Olímpica e que deixaria os Jogos de 2028 com sua sede conhecida 11 anos antes de sua realização. Obrigaria que uma outra cidade interessada em se candidatar tivesse que esperar até a eleição para os Jogos de 2032!

Para quem ainda duvida que a Olimpíada está se tornando um mico, um dado relevante: na disputa que definiu Londres como sede dos Jogos de 2012, sabe quantas cidades estavam na briga no dia da eleição, em 6 de julho de 2005? Cinco. Além de Londres, também concorriam Paris, Madri, Nova York e Moscou. Sem falar que um ano antes, o COI fez uma espécie de eliminatória e tirou da disputa Havana, Istambul, Leipzig e Rio de Janeiro.

Em 12 anos (2005 e 2017), muita coisa mudou no universo do esporte olímpico. Só os cartolas do COI que ainda não perceberam.

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