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O ‘não’ de Roma e o dilema do COI

Ao abandonar a candidatura para tentar receber a Olimpíada de 2024, a cidade de Roma mostrou que o COI continua com problemas para encontrar interessados em organizar os Jogos Olímpicos

Logotipo da candidatura da cidade de Roma aos Jogos Olímpicos de 2024. Nesta quarta-feira, a prefeitura retirou o apoio (Crédito: Reprodução)

Logotipo da candidatura da cidade de Roma aos Jogos Olímpicos de 2024, cuja candidatura foi retirada de forma oficial nesta terça (11). Crédito: Reprodução

O sorriso largo, quase sempre presente nas aparições públicas do alemão Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), certamente ficou escondido nesta terça-feira (11), após a confirmação da desistência oficial da cidade de Roma em seguir com sua candidatura para receber as Olimpíadas de 2024. Coube a Giovanni Malago, presidente do CONI (Comitê Olímpico Italiano) a missão de anunciar a desistência dos italianos em voltar a receber os Jogos, repetindo o que já havia ocorrido na edição de 1960.

A “morte” da candidatura de Roma, que tinha como principal comandante ninguém menos do que Luca de Montezemolo, ex-presidente da Ferrari e chefe do comitê organizador da Copa do Mundo de 1990, foi lenta e com requintes de crueldade. Em 21 de setembro, a prefeita de Roma, havia dito que não apoiaria a candidatura, argumentando que os Jogos deixariam a capital italiana afundada em dívidas. Oito dias depois, foi a vez do conselho municipal, com ampla maioria nos votos, negar apoio ao sonho olímpico italiano. Nesta terça, veio o golpe final.

“Agora, temos de curar as feridas trazidas pela ideologia e a demagogia. Lamentamos a opção de não gerar 177 mil postos de trabalho e aumento da riqueza de 2,4% entre 2017 e 2023”, disse Malago, durante entrevista coletiva.

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Na prática, o significado da decisão italiana foi deixar somente três cidades na disputa pelo direito de receber os Jogos de 2024: Paris (França), Los Angeles (Estados Unidos) e Budapeste (Hungria). Antes da desistência de Roma, outras duas cidades abriram mão de suas candidaturas: a americana Boston, em julho de 2015, e a alemã Hamburgo, em novembro do ano passado, após um referendo convocado pela cidade optar pelo não.

Mas o que raios o provável mau humor de Thomas Bach nesta terça-feira tem a ver com a desistência italiana? Muita coisa…

Para quem não se lembra, uma das principais plataformas da candidatura de Bach para ganhar a eleição para a presidência do COI, em 2013, foi fazer uma profunda reformulação nos Jogos Olímpicos. A “joia da coroa” do COI virou hoje um motivo de orgulho e ao mesmo tempo de enorme dor de cabeça para as cidades que ganham o direito de receber o mega-evento, culpa em boa parte pelo gigantismo que o próprio COI incentivou.

Os valores absurdos para erguer arenas, vilas olímpicas e preparar toda a infraestrutura necessárias para abrigar os Jogos aumentaram de forma descontrolada nas últimas edições, a destacar o que vimos em Pequim 2008 e na edição da Olimpíada de inverno de Sochi 2014. Os custos estratosféricos começaram a espantar possíveis cidades interessadas. O vexame maior foi para definir a sede da Olimpíada de 2022 (inverno), que contou com somente duas finalistas, Pequim – que acabou escolhida – e Almaty, no Casaquistão. Antes, seis outras cidades simplesmente desistiram no meio do caminho.

Algo precisava ser feito para “salvar” as Olimpíadas. Foi com este objetivo que Bach lançou, em dezembro de 2014, o plano que ele chamou de “Agenda 20 + 20”, cujo principal meta era tornar os Jogos mais sustentáveis, especialmente menos custosos, abrindo até a possibilidade para que duas cidades pudessem dividir a organização de uma mesma edição olímpica.

Na prática, menos de dois anos depois, a única coisa prática que se viu foi a ampliação do programa esportivo, permitindo que modalidades mais interessantes ao país anfitrião pudessem ser incluídas, bem como esportes que possam atrair um público mais jovem. Isso foi feito para a edição de Tóquio 2020, com a inclusão do surfe, escalada esportiva e skate, além do retorno do beisebol, softbol e a entrada do caratê.

O “não” de Roma não feriu apenas o orgulho próprio dos dirigentes do comitê olímpico italiano. Ao virar as costas para a Olimpíada, a capital italiana também deixou o COI num dilema que por enquanto parece ser de difícil solução. Ou trabalho de forma intensa e séria para deixar os Jogos Olímpicos um evento possível de ser recebido por vários países ou Thomas Bach e seus companheiros ajudarão a tornar o maior espetáculo do esporte mundial numa festa bem cara e para poucos.

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