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Irmão de Zé Roberto comanda vôlei sentado ucraniano

De olho em Tóquio 2020, Fernando Guimarães veio a São Paulo para intercâmbio com a seleção brasileira, que comandou em Londres e no Rio

Fernando Guimarães comanda Ucrânia em busca da vaga em Tóquio. (Foto: Danilo Borges/Agência Brasil)
Fernando Guimarães comanda Ucrânia em busca da vaga em Tóquio. (Foto: Danilo Borges/Agência Brasil)

O principal personagem da equipe ucraniana de vôlei sentado que vai a São Paulo para um intercâmbio de duas semanas vem do banco de reservas: Fernando Guimarães. Não é só o sobrenome; o tipo físico e o comportamento à beira da quadra comprovam que ele é mesmo o irmão mais novo do José Roberto Guimarães, técnico tricampeão olímpico. Mas, ele também tem muita história no esporte. Só na seleção masculina da modalidade, foram mais de cinco anos como técnico.

Entre 2010 e 2016, a seleção conquistou dois títulos parapanamericanos, o vice-campeonato mundial em 2014 e da Copa do Mundo em 2016, o quinto lugar na Paralimpíada de Londres e o quarto lugar nos Jogos do Rio de Janeiro. Com toda essa história na modalidade, Fernando atraiu os olhares de seleções estrangeiras, como a da Ucrânia.

“É um orgulho e um prazer ter sido lembrado. É reflexo do trabalho”, afirmou o treinador ao repórter Juliano Justo, da TV Brasil. “Depois da Paralimpíada do Rio de Janeiro, quando eu saí da seleção, recebi alguns convites de outras equipes. E a Ucrânia foi uma delas. Mas foi muito complicada a comunicação e, naquela época, essas questões acabaram “esfriando” a negociação. Mas agora, há pouco mais de um mês, eles me ligaram dizendo que iriam passar duas semanas aqui em São Paulo. E eu aceitei de pronto acompanhá-los.”

A seleção ucraniana participa de um período de duas semanas de treinamentos no Centro Paralímpico Brasileiro, em São Paulo. Ainda correndo atrás da vaga para os Jogos Paralímpicos de Tóquio, a equipe vai disputar o pré-olímpico mundial nos Estados Unidos no mês que vem. A competição acontecerá entre os dias 16 e 21 de março em Oklahoma nos Estados Unidos. Além dos anfitriões e dos ucranianos, a Croácia, o Canadá, a Alemanha, o Cazaquistão e a Letônia estarão na disputa pela última vaga. 

“Eu não consigo ver neles algo que existe na seleção brasileira: aquela determinação”, observou Fernando. “Não precisa ser tão sanguíneo quanto os brasileiros. Mas, se eles continuarem nesse ritmo e nessa pegada, acho muito difícil. Eles até são um dos favoritos. Acredito que a final vai ser Ucrânia e Alemanha, que retornou com a equipe completa. Eles precisam entender o jogo, querer mais, colocar o coração na quadra. Falei para todos: ‘é uma vaga olímpica. Vocês precisam querer mais do que a vida. Todo mundo quer participar de uma Olimpíada’.”

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Além da diferença no fator determinação, Fernando ainda sofre com a falta de entendimento entre as partes.

“Aqui em São Paulo, eu comecei a falar primeiro com o capitão. E ele fala muito pouco de inglês. Fiquei com a impressão de que eu iria apenas treiná-los aqui no CT, nem iria participar dos amistosos contra o Brasil. Mas eles falaram que eu precisava estar presente nas partidas. Eles sempre me falam que precisam de mim. Acho que pode acontecer uma conversa. Mas gostaria que eles me dessem carta branca. Por conta da minha trajetória, gostaria que eles me escutassem. Precisam “baixar a guarda” e reconhecer que eu posso ajudá-los. Eu gosto muito de jogo. Não importa contra quem, eu gosto de ganhar, odeio perder”, comentou o treinador.

Antes de aceitar o convite da seleção da Ucrânia, Fernando Guimarães foi assistente técnico de José Guedes na seleção brasileira feminina de vôlei sentando, do início de 2019 até os jogos Parapan-americanos de Lima. A equipe conquistou a prata e a vaga para a Paralimpíada de Tóquio, mas Fernando decidiu sair.

“O Guedes deixou que eu colocasse em quadra muita coisa daquilo que eu acredito. As meninas entenderam que eu queria uma postura diferente, uma velocidade de jogo muito maior. Mas eu falei com o Guedes e com o Ângelo (Ângelo Alves – presidente da Confederação Brasileira de Voleibol para Deficientes) que ser assistente não é do meu perfil. Para você ter uma ideia, eu fui assistente do meu irmão e durou apenas três jogos”, explicou.

Relação com o irmão

Por falar no irmão Zé Roberto, Fernando afirma que sempre teve um bom relacionamento com ele, mas o assunto vôlei é evitado nas conversas. “Estamos juntos quase todo final de semana. Andamos de cavalo junto”, explicou. “Eu falo pouco de vôlei com ele porque a gente sempre briga quando começamos a falar sobre isso.”

Mesmo não falando muito sobre vôlei com o irmão, Fernando comentou sobre os desafios que a seleção feminina terá nas Olimpíadas de Tóquio.

“Eu acho que, com todas no melhor condicionamento físico, a gente briga de igual para igual com qualquer equipe. Agora, eu sempre digo para ele, infelizmente, o grupo brasileiro nunca esteve completo nesse período, e todos os principais adversários estiveram quase sempre 100%. Isso pode fazer muita diferença. Estamos três anos atrás das demais equipes em relação a preparação. Ele precisa ver se terá tempo para colocar essa equipe brasileira, que na teoria é muito forte, em condições de jogar e competir lá em Tóquio. Hoje você tem Sérvia e China em um patamar bem acima das demais. China ainda é espetacular. Mas a Rússia está vindo bem. A Itália é forte. Os Estados Unidos costumam oscilar um pouco nos Jogos Olímpicos, tanto que não venceram nenhum ainda, mas é um time fortíssimo. Só que o Zé tem um “negócio legal” com as Olimpíadas. Por isso eu confio muito nele.”

José Roberto Guimarães tem 65 anos, sendo muitos deles dedicado ao vôlei brasileiro. O próprio irmão acredita que Tóquio será a última Olimpíada do tricampeão olímpico.

“Logo depois de Londres, eu perguntei para ele: “você é bicampeão olímpico. Por que continuar? Você sabe que, se perder, será muito cobrado”. E a resposta foi tão simples e bonita: “vou seguir porque eu gosto muito disso. Eu preciso…” mas, agora, eu acho que, depois da chegada dos netos, ele vai parar. Claro que são dois exemplos de caras super vitoriosos, mas o Zé Roberto e o Bernardinho acabaram “matando” quatro gerações de técnicos brasileiros. Só os dois ficam na seleção. É importante uma renovação. Por exemplo, você vê que o Renan Dal Zotto pegou a seleção depois de uma era brilhante do Bernardo e está se saindo super bem. Acho que vai acontecer a mesma coisa com o Zé Roberto. Tá na hora de descansar”, completou Fernando.

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