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Laguna Olímpico

O dia em que Pelé brilhou nos Jogos Pan-Americanos

O melhor jogador de futebol da história, que completa 80 anos, quebrou os protocolos no Pan de Mar del Plata, para alegria geral

Pelé Pan de Mar del Plata-1995
Ministro do Esporte do governo FHC, Pelé visitou a Vila dos Atletas do Pan de 1995 e fez uma foto com parte da imprensa brasileira (Arquivo pessoal)

Todos os adjetivos seriam inúteis para descrever a grandeza do aniversariante do dia. Com um apelido que se tornou sinônimo de excelência, Pelé completa 80 anos nesta sexta-feira (23). O maior jogador de futebol de todos os tempos – desculpem-me os mais novos, porém Messi ou Cristiano Ronaldo estão a galáxias de distância – merece todas as homenagens por sua genialidade incomparável dentro dos gramados.

O destino não permitiu que o esporte olímpico fosse mais um capítulo na biografia do Rei. Afinal, com 17 anos ele já era campeão do mundo na Copa da Suécia. Mas Pelé teve uma passagem pouco lembrada, mas bastante significativa, no Pan-Americano de Mar del Plata-1995.

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O Pan de 1995 esteve longe de ser um primor de organização. Sem grandes investimentos, diante dos eternos problemas econômicos da Argentina, a cidade balneária de Mar del Plata recebeu os Jogos daquele ano utilizando diversas instalações existente. Uma delas, uma vila militar, distante do centro da cidade, serviu de alojamento para as delegações.

O acesso não era nada simples. Sem transporte público, só era possível chegar lá de táxi ou alugando um carro. Com isso, antes dos Jogos começarem, os jornalistas acabaram adotando a área externa dos prédios das delegações como base para entrevistar os atletas. Porém, havia uma regra rigorosa no local: nenhum jornalista poderia entrar nos prédios.

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Para fazer com que a norma fosse cumprida, o chefe da segurança da Vila exercia marcação cerrada em todos nós, muitas vezes apelando para as ameaças, como tirar as credenciais de quem ultrapassasse os limites. Não à toa, recebeu o carinhoso apelido de “Videla” dos jornalistas brasileiros. Com um bigode nada discreto, o cidadão era quase uma caricatura do nefasto general Jorge Videla, que comandou o governo militar da Argentina no final dos anos 70, no auge da ditadura do país.

Pelé
Pelé levanta a Taça Jules Rimet, após a conquista do tricampeonato mundial pelo Brasil na Copa do México-1970 (twitter/@pele)

Um Rei entre nós

Um dia antes da abertura do Pan, descobrimos que a delegação brasileira receberia uma visita ilustre na Vila Militar. Poucos meses após ter sido empossado como ministro do Esporte no recém-eleito presidente Fernando Henrique Cardoso, Pelé faria uma rápida aparição para conversar com os atletas brasileiros, tirar fotos, enfim, cumprir todo aquele protocolo habitual.

Após muita negociação com o nosso amigo Videla, que não queria nem permitir a presença de fotógrafos dentro do prédio durante a visita, combinou-se que seria permitida a entrada de um representante de cada veículo credenciado.

O problema é que quando se trata de Pelé, estas regras nunca foram respeitadas. Bastava ele chegar em qualquer evento que imediatamente já era cercado por uma centena de pessoas, todas buscando um abraço ou um autógrafo (não existiam as selfies na época).

Não foi diferente na Vila Militar de Mar del Plata. Um verdadeiro tumulto ocorreu com a chegada de Pelé no prédio da delegação brasileira. Após o grupo de colegas autorizados entrar junto com o Rei no alojamento, até atletas de outros países também foram atrás. Uma verdadeira bagunça, essa é a realidade.

Com a porta do prédio desguarnecida, os brasileiros que ficaram de fora (eu entre eles) nem titubearam e seguiram a comitiva.

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No final, o que era só para ser uma rápida visita acabou se transformando numa entrevista coletiva improvisada no meio de um corredor apertado, onde Pelé respondeu a TODAS AS PERGUNTAS que lhe foram feitas. E tirou fotos, muitas fotos.

Uma delas, a que ilustra esta matéria, guardo como um dos troféus mais preciosos da minha carreira. Nela está uma pequena parte da imprensa brasileira que cobriu o Pan de 1995, ao lado de Pelé. Vários companheiros queridos, alguns inclusive que já não estão mais por aqui (Nicolau Radamés Cretti e Moacir Ciro Martins, in memoriam). Até mesmo o mala sem alça do Videla apareceu como papagaio de pirata, no canto direito da foto, com um pouco discreto terno azul. Por causa do Rei, o humor do Videla melhorou consideravelmente dali em diante.

Parabéns e obrigado por tudo, Pelé.

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