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Pan 2019

Mirando Tóquio, CBJ reclama do calendário do Pan

Focado nos Jogos Olímpicos do ano que vem, Ney Wilson, gestor de alto rendimento da confederação, entende que torneio de Lima só atrapalha

Maria Suelen Altheman da seleção brasileira de judô tel aviv
Maria Suelen já avisou que não vai ao Pan para se preparar melhor visando o Mundial (Fawaz Alenezi/IJF/arquivo)

“Os Jogos Pan-Americanos para nós não valem absolutamente nada em termos de Jogos Olímpicos”. É desta maneira que o Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), resume a importância do torneio de Lima para o maior foco da seleção, os Jogos de Tóquio 2020. A questão passa pelo calendário do Pan-Americano e a aclimatação para o mundial de judô.

Ele falou com a imprensa na tarde desta terça (2) durante treinamento de campo que a seleção realiza, junto com atletas estrangeiros, na cidade de Pindamonhangaba, interior de São Paulo. Lá, destacou também que a intenção é fazer o Brasil figurar entre as cinco maiores potências olímpicas, objetivo que também tem na estratégia a realização do Grand Slam de Brasília, anunciado na mesma data.

A chateação é fundamentada basicamente em dois quesitos. Um no fato de os Jogos-Pan-americanos não terem qualquer impacto direto no ranking mundial, da Federação Internacional de Judô (FIJ), que, em última análise define os atletas credenciados para participar do torneio olímpico.

Para piorar, o calendário do Pan-Americano encavala justamente com a preparação para a principal competição do ano para a seleção, o mundial, que também vai ser disputado na capital japonesa. O calendário apertado incomoda não apenas porque o mundial é o torneio que mais dá ponto para o ranking no ano, mas também porque a seleção quer usar a aclimatação para o torneio deste ano como laboratório da preparação para os Jogos de 2020.

“A aclimatação para o campeonato mundial é fundamental”, explica Ney Wilson. “É um grande laboratório para os jogos olímpicos. A gente vai usar a mesma estratégia, vamos ficar no mesmo lugar, nos mesmos dias, levando todos os profissionais, para a gente avaliar onde a gente ainda pode evoluir”, detalha Ney Wilson.

Budokan, onde serão realizadas as lutas do Mundial e dos Jogos Olímpicos

Um mês fora

O torneio de judô do Pan vai de 6 a 11 de agosto e o período de aclimatação para o mundial começa exatamente um dia após o término, dia 12. As lutas do mundial vão de 25 a 31 de agosto. Ou seja, dá quase um mês fora. “Por isso alguns atletas optaram por não fazer os jogos. É muito tempo e nem todos se adaptam a tanto tempo fora”, explica.

Maria Suelen Altheman, bronze nas duas últimas edições do torneio continental e atual terceira do ranking, é uma delas. Já anunciou que não vai a Lima. “É um tempo muito longo fora só competindo. Isso seria muito tempo sem preparação física, sem treino realmente forte, então foi uma opção que eu fiz. Eu acredito que fiz a opção certa”, ponderou na terça (2). O motivo? “Por causa do campeonato mundial”.

Já com 30 anos, Maria Suelen tem duas pratas em mundiais e, como não haverá torneio no ano que vem por causa dos Jogos Olímpicos, o desse ano pode ser sua última chance de vencer ou ao menos conquistar mais um pódio.

David Moura, outro grande nome do judô brasileiro e mundial, também já disse que não vai a Lima.

Ney Wilson reclama ainda do critério usado para garantir vaga no Pan. “A PanAmerica também criou um ranking pan-americano para atrapalhar tudo. Não vale nem o ranking mundial, nem o ranking olímpico. Então a gente tem de gastar mais recursos para classificar para uns Jogos que não valem para os Jogos Olímpicos. Então é bem chato e bem complicado”, desabafa. O tal ranking pan-americano é composto pelo campeonato pan-americano e a copa pan-americana deste ano e do ano passado.

Mayra Aguiar

A bicampeã mundial e atual número 1 nos 78kg, Mayra Aguiar, pretende estar em Lima. “Estou muito focada nesta competição”, afirmou no mesmo treinamento de campo, na terça (2). “Vai ser bem cima do mundial, mas é uma competição boa e vai valer também como um treinamento para o Mundial. É muito importante para a carreira também”, afirma, mas sem deixar de admitir que “o foco mesmo está no mundial”.

A brasileira tem três medalhas em Pans. Uma no Rio 2007, quando ainda competia nos 70kg, e duas já pelos 78kg em Guadalajara e Toronto. “É claro que tem aquele gostinho especial. São jogos que quatro em quatros anos”.

Sua grande rival no continente era a norte-americana Kayla Harrison, que a venceu na última final, no Canadá, e também nas quartas de Guadalajara. Mas a adversária, também grande amiga da brasileira, parou com o judô. Mayra, porém, não baixa a guarda.

“Na verdade, tem uma colombiana que eu estou treinando e que quase medalhou em mundial. É muito forte. E tem a cubana que é medalhista (Kaliema Antomarchi). Em 2017 comigo ela medalhou (no mundial). Então não é uma competição fácil. É uma competição dura. E eu estou me preparando para ela.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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