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Técnico do judô paralímpico vê lado bom na indefinição de vagas

No CBDV Ao Vivo, Jaime Bragança falou sobre como utilizar incerteza em relação a Tóquio a favor do Brasil mesmo em tempos de pandemia

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(divulgação/CBDV)

Única seleção gerida pela Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV) ainda sem vagas definidas para os Jogos de Tóquio 2020, remarcados para 2021, a equipe de judô paralímpico deveria, ao menos em tese, estar mais ansiosa que as demais. Mas na visão do técnico Jaime Bragança, essa incerteza toda pode jogar a favor dos atletas.

“Em tudo, precisamos tentar enxergar o lado positivo. Nesse caso, o fato de não haver ainda vaga definida não deixará nenhum atleta acomodado, pensando que é férias, que pode parar de treinar”, disse o sensei, durante o programa “CBDV Ao Vivo”, transmitido nesta quinta-feira (30) no Instagram da Confederação. “Todo mundo está ativo. A grande verdade é que ninguém sabe quais serão as ações para classificação: se farão novos eventos, em quais datas… Precisamos esperar um pouco”, completou.

Dos 13 judocas com possibilidade de classificação, alguns se encontravam em situação mais confortável antes da pausa nas competições, casos de Antônio Tenório, Alana Maldonado e Willians Araújo. Mas a meta da comissão técnica do judô paralímpico é, assim que os qualificatórios forem retomados, tentar encaixar a maioria na delegação que irá ao Japão. “Precisamos continuar trabalhando, dentro das condições de cada um, e sonhando com as vagas.”

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Com todos em quarentena, foi preciso entender a realidade de cada um antes de prescrever os treinos domésticos na corrida por vagas em Toquio 2020. Por exemplo, alguns têm áreas externas em suas casas, o que permite exercícios ao ar livre. O trabalho das psicólogas Carolina Campos e Fernanda Carneiro também vem sendo fundamental. “Desde o encerramento dos treinos, elas entraram em contato com os atletas e mapearam as condições de cada um. O que vimos é que eles estão aceitando bem”, comentou Jaime Bragança, referindo-se a como os atletas têm encarado o período de isolamento.

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Por sua vez, os judocas enviam vídeos e fotos das atividades para mostrar à comissão técnica o trabalho longe do tatame visando a conquista de vagas em Tóquio 2020. “A gente vinha numa preparação de reta final, os Jogos já haviam começado, praticamente, apesar de ainda ter dois eventos classificatórios. Quando começou a pandemia, veio uma preocupação em tentar adaptar dentro do possível. O cancelamento foi um aspecto positivo porque a gente pode se reorganizar, todos terão igualdade para voltar a treinar, se preparar bem e fazer grandes Jogos”, analisou o sensei.

Renovação a caminho

Um dos trunfos da seleção de judô paralímpico é a mescla entre veteranos como Antônio Tenório, de 49 anos, e Karla Cardoso, de 38, com promessas a exemplo de Luan Pimentel (22) e Giulia Pereira (20). Isso faz parte de um processo desenvolvido desde 2009 pela atual comissão.

Na seleção, novatas como Giulia, de 20 anos, treinam diariamente com veteranas a exemplo de Karla, que tem 38.

“Acho que conseguimos colocar em prática essa mescla de atletas experientes com os jovens. O ciclo de Londres, por exemplo, teve o Willians muito novo surpreendendo e conseguindo um quinto lugar. Você pega os atletas medalhistas, eles vão passando toda essa bagagem aos mais jovens”, explicou Jaime Bragança, referindo-se ao pesado Willians Araújo.

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Em um dos pontos mais importantes do programa, o treinador deu seu ponto de vista a respeito da dificuldade encontrada no país em revelar talentos: “A gente ainda passa no Brasil por uma questão de preconceito, de várias formas. Até na própria família, quando se depara com uma criança de baixa visão ou que nasce cega. Por proteção, acaba excluindo a criança da atividade física. Não tem mágica. A pessoa precisa ter anos de contato com o esporte para chegar ao alto rendimento”, falou.

Segundo ele, estudos mostram que a idade entre nove e dez anos é a ideal para as crianças iniciarem a prática no judô. “Só que a gente não vê as crianças cegas chegando na modalidade com essa idade. Tem ainda a falta de preparação dos profissionais. As pessoas veem o ensino do judô para o deficiente visual como algo muito difícil de se fazer. Precisa do conhecimento, é lógico, mas todos poderiam estar capacitados. A gente fala de inclusão, o ideal fosse que toda escola de judô recebesse o aluno com deficiência e desenvolvesse o seu trabalho”, concluiu o treinador da seleção de judô paralímpico do Brasil.

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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