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Edênia Garcia monta CT no quarto para enfrentar a quarentena

Sem poder treinar no Centro Paralímpico de São Paulo, nadadora paralímpica improvisa treinos dentro do quarto para não perder condicionamento físico

Edênia Garcia fez CT dentro do quarto
(Foto: Reprodução/Instagram)

Sejam bem-vindos ao “CT Edênia Garcia“. Foi dessa forma que a nadadora paralímpica definiu seu quarto durante a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus. Sem poder treinar no Centro Paralímpico de São Paulo, Edênia utiliza elásticos na porta, fitas e aparelhos de respiração para não deixar de se exercitar durante o isolamento.

“É preciso manter uma saúde mental no confinamento e pra isso a gente precisa manter uma rotina, que é o que eu estou fazendo. Antes da gente se isolar eu já estava comprando uma ‘academia de porta’, que são elásticos que têm puxadores de cima e de baixo e com isso eu consigo fazer alguns exercícios que eu faço na academia”, contou a nadadora ao Olimpíada Todo Dia.

Se o medo de perder condicionamento físico durante a quarentena é algo que preocupa todo atleta de alto rendimento, no caso de Edênia Garcia é ainda pior. A nadadora de 32 anos sofre de uma neuropatia que afeta os músculos e faz com que o tônus muscular diminua rapidamente. Portanto, fortalecimento constante é essencial.

“Eu tenho que estar muito focada em manter a força do abdômen pra manter um posicionamento melhor na água e pra não perder a força que já adquiri nos treinos que eu fiz. Também estou fazendo uma série com um aparelho de fisioterapia que é um estimulador muscular para manter a cintura escapular, que é o que tenho de mais fraco”, contou. “Executo também uma rotina de fisioterapia respiratória pra melhorar minha capacidade pulmonar e exercícios para voz porque eu tenho alguns problemas nas cordas vocais também.”

Ficar longe da água por tanto tempo também é um fator preocupante para a nadadora tetracampeã mundial.

“A gente perde muito rápido a sensibilidade na água. Então 15 dias que você perde fora da água, você leva 30 pra recuperar na piscina. Ficar longe da água é mais complicado, porém a gente tem como adaptar alguns treinos. Não vai substituir, nada substitui o contato com a água, mas tento manter pelo menos a força já adquirida dos treinamentos anteriores.”

Tóquio 2020

Todos os treinos anteriores visavam os Jogos de Tóquio e o sonho de conquistar uma medalha de ouro. Com o adiamento do torneio anunciado pelo COI, o desejo de Edênia ficará para 2021.

“O adiamento era inevitável. Eu apoio total. Não só apoio, como agradeço muito todos os atletas que se posicionaram. Eu acho que foi fundamental chegar nessa decisão. Se os atletas, confederações, federações e comitês não tivessem se posicionado, talvez a gente não chegasse nessa decisão.”

Em meio à pandemia e ainda sem uma definição sobre a nova data dos Jogos de Tóquio, é difícil fazer um novo planejamento. Mas para Edênia Garcia, uma coisa não muda jamais: os objetivos.

“O plano agora é manter os exercícios nesse momento, pensando no momento atual, porém com um objetivo muito claro que ainda é Tóquio 2021 e se manter preparada. Para quando voltar estar numa boa forma pra conseguir retornar bem aos treinos e não perder tanto tempo na preparação. O plano continua sendo o mesmo: Tóquio, mas em 2021″, projetou Edênia.

Contra o coronavírus

Com a atual pandemia do coronavírus todas as pessoas devem tomar o máximo de cuidado para evitar o contágio da doença. Lavar as mãos e utensílios constantemente é a medida mais eficaz. No caso de Edênia é mais complicado. Além de ter que se preocupar também com a higienização de sua cadeira de rodas, a nadadora faz parte do grupo de risco da doença.

“Eu tenho uma neuropatia, é uma doença neuro muscular degenerativa, e pessoas com essa síndrome estão no grupo de risco. Então eu preciso estar com todo o ambiente bem limpo e tudo que vem de fora tem que ser esterilizado. Meu cuidado maior é esse, a higiene é redobrada.”

Além de combater a doença, o desafio é lutar também contra o tédio que pode surgir durante o isolamento prolongado.

“Eu tenho ansiedade, então faço acompanhamento pra cuidar dessa parte”, explica a nadadora, que não deixou de ter sessões com a psicóloga do Centro de Treinamento Paralímpico, mesmo à distância. “Fiz um planejamento onde montei toda a rotina da semana. Então, estou fazendo um curso no Senac, faço meditação todos os dias, um trabalho de respiração pra diminuir a ansiedade e tenho assistido algumas séries, alguns filmes, além de falar bastante com minha namorada. A gente tenta fazer esse equilíbrio pra não entrar em parafuso”, brincou.

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Tratamento que virou profissão

Natural do Ceará, Edênia Garcia começou a nadar aos 12 anos, em Natal, Rio Grande do Norte, como um tratamento para a neuropatia. “Aprendi todos os estilos e menos de um ano depois eu já estava treinando no mesmo local que os atletas da seleção paralímpica de natação”, conta. ” No final de 2001 eu já tinha ido para um campeonato pré-mundial na Argentina, onde eu voltei com quatro medalhas de ouro. Foi assim que tudo começou, primeiro por tratamento e depois virou uma profissão que já está durando 20 anos.”

nadadora Edênia Garcia monta CT durante quarentena - coronavírus
Aos 32 anos, Edênia Garcia tem quatro ouros em mundiais (Foto: Ale Cabral/CPB)

Medalha de prata nos Jogos de Londres, em 2012, Edênia tem também quatro títulos mundiais na prova dos 50m costas. Segunda a nadadora, o último deles, em 2019, foi o momento mais emocionante de sua carreira.

“Voltar a Londres e subir no lugar mais alto do pódio representou muito. Aos 32 anos ganhar meu quarto título mundial nos 50m costas foi incrível. É um momento que eu não vou esquecer nunca na minha vida porque eu não estava sozinha. Quem me levou até o pódio foi meu técnico, minha mãe e minha irmã estavam comigo, todos me inspiraram muito. É o momento mais lindo da minha carreira até hoje”, conclui Edênia, com a esperança de que em Tóquio, em 2021, um momento mais bonito ainda seja acrescentado em sua história.

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