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Ministério Público abre inquérito contra humoristas

Comediantes realizaram piadas discriminatórias envolvendo deficientes e atletas paralímpicos

CPB provocou a instauração do inquérito (Foto: Reprodução)

O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) informou nesta quinta-feira (16) que Ministério Púbico de São Paulo instaurou um inquérito civil contra os humoristas Abner Henrique e Dihh Lopes por “eventual conduta discriminatórias às pessoas com deficiências”.

Segundo o promotor do caso, Wilson Tafner, o inquérito foi aberto considerando que a dupla de humoristas cometeu uma ofensiva à honra de terceiros e por isso o caso não se encaixa em censura.

“O exercício do direito fundamental à liberdade de expressão deve e pode ser legitimamente restringido no caso concreto, quando incide em discurso de ódio e discriminação, suprimindo o gozo e exercício de outros direitos humanos fundamentais”, descreveu no inquérito.

O caso começou a ganhar força no início desta semana, quando vídeos publicados nas redes sociais mostravam a dupla realizando piadas sobre amputados, autistas, acometidos por síndrome de Down e crianças com câncer.

Ainda na segunda-feira, o CPB anunciou que havia realizado uma denúncia formal contra os humoristas. Na nota, a entidade classificou o ato da dupla no crime de capacitismo, no qual um indivíduo age de forma preconceituosa e discriminatória contra a pessoa com deficiência.

Esta conduta está inclusa no Estatuto da Pessoa com Deficiência, Lei Brasileira da Inclusão (lei 13.146/2015). Esta lei “prevê pena de um a três anos de reclusão e multa, podendo a reclusão ter o seu período aumentado dependendo das condições em que o crime foi praticado.”

Comediantes emitem nota

No sábado (11), Abner Henrique e Dihh Lopes utilizaram as suas redes sociais para divulgar uma nota de esclarecimento. Os humoristas afirmaram que praticaram o subgênero humorístico chamado “humor negro” durante a apresentação e se defendeu alegando que existe uma diferença entre as piadas e narrativas interpretadas no palco e as suas opiniões particulares.

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“Reafirmamos que reconhecemos, porém, o direito de qualquer um não gostar do conteúdo – deste e de qualquer outro -, mas não toleraremos ataques, ameaças e tentativas de boicotar o nosso trabalho o que beira a censura. Continuaremos fazendo a nossa comédia para quem consome e gosta do nosso trabalho. A nossa intenção é sempre causar o riso (como no vídeo), nunca dor e sofrimento. Repudiamos qualquer ato atentatório, contra quem quer que seja. Mas continuaremos fazendo nossa arte e entretendo o nosso público fiel”, publicaram.

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Nota de Esclarecimento Deslize para o lado

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Personalidades do esporte paralímpico criticam

Algumas personalidades do esporte paralímpico demonstraram a sua indignação com o conteúdo apresentado pela dupla. Presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), o brasileiro Andrew Parsons foi um dos que demonstrou a sua insatisfação.

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‪Não se pode permitir que, sob a desculpa de que no humor vale tudo, reforçar preconceitos e estigmas seja confundido com piada. Mais de 1 bilhão de pessoas (15% da população mundial) com deficiência no mundo lutam contra isso todos os dias. Discriminação não tem graça, nunca teve e nunca terá. Estou enojado com a atitude desses pseudo-comediantes. Como presidente do Comitê Paralímpico Internacional, apenas lamento que o terceiro maior evento esportivo do mundo seja utilizado em piadas que reforçam o que há de mais atrasado na sociedade. Certamente os 2,3 milhões de brasileiros que assistiram as Paralimpíadas Rio 2016 e os mais de 4 bilhões de telespectadores ao redor do mundo têm uma opinião diferente. Como cidadão engajado na luta das pessoas com deficiência, fico indignado que condições como o Autismo e Síndrome de Down e uma doença terrível como o câncer sejam motivo de deboche por parte destes pseudo-comediantes. Em 2020, não pode haver tolerância para esse tipo de comportamento. Tão nojenta quanto, é a atitude de quem ri desse tipo de piada, seja na platéia de um show ou nas redes sociais. Convido os dois pseudo-comediantes a estarem conosco em Tóquio, no ano que vem, para que possam experimentar os Jogos Paralímpicos e conhecer a garra, a determinação e o altíssimo rendimento dos atletas paralímpicos de todo o mundo, além do efeito inspirador que despertam. Certamente mudarão sua visão distorcida a respeito das pessoas com deficiência e se tornarão pessoas e profissionais melhores. Aproveito para falar sobre a tal “banda de Brasília formada por autistas”. É a fantástica banda Time Out. Eles tocaram numa homenagem que recebi aqui em Brasília. Virei fã. Tocam muito e levantam a platéia por onde passam. São incríveis! Sugiro a todos que os sigam nas redes e não percam a oportunidade de vê-los ao vivo. Faz bem aos ouvidos e ao coração. Das pessoas preconceituosas também. #preconceitonaotemgraça #discriminaçãonaoepiada @paralympics @timeoutrockband

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“Não se pode permitir que, sob a desculpa de que no humor vale tudo, reforçar preconceitos e estigmas sejam confundidos com piada. Mais de um bilhão de pessoas (15% da população mundial) com deficiência no mundo lutam contra isso todos os dias. Discriminação não tem graça, nunca teve e nunca terá. Estou enojado com a atitude desses pseudo-comediantes”, escreveu.

A atleta paralímpica Verônica Hipólito também utilizou as suas redes sociais para mostrar como piadas de cunho preconceituoso acabam reforçando este problema na sociedade. “E é assim, mascarado por “piadas” que os preconceitos são reforçados. Em pleno século XXI falando essas idiotices, sério? Pois bem, aos dois pseudo-piadistas, vocês sabiam que no mundo mais de 1 bilhão de pessoas têm algum tipo de deficiência?”, publicou a atleta.

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