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Blog da Lyanne Kosaka

A economia chinesa e a relação com o tênis de mesa

Com o crescimento da economia chinesa, os mesatenistas da seleção nacional já não procuram deixar o país como em anos anteriores

China: 4 dos 5 ouros no tênis de mesa em Tóquio-2020 (Foto: Divulgação)

Em que medida a economia chinesa tem relação com o tênis de mesa do país?

Se falarmos apenas em Olimpíadas, desde que a modalidade entrou para o programa em Seul-1988, foram poucas as vezes em que a China não ficou com a medalha de ouro. Apenas cinco vezes, para ser mais exata. E na edição mais recente, em Tóquio-2020, os chineses ganharam 4 das 5 douradas em disputa.

Mas se nos anos 1990 – da grande Deng Yaping – muitos dos mesatenistas da seleção nacional optavam por sair do país em busca de melhores oportunidades e condições de vida, hoje a história é diferente. Com o crescimento da economia chinesa, grandes investimentos no esporte e a criação da Superliga Chinesa em 1995, os mesatenistas locais passaram a ter maior retorno financeiro. Assim, os melhores jogadores parecem não pensar em deixar o país, como tantos já fizeram no passado. Nomes como: Chen Jing (Taiwan), He Zhili (Japão) e Gao Jun (EUA).

Quando a economia chinesa não era tão forte, atletas da seleção nacional buscavam outros países. Chen Jing (à esq.) campeã em Seul-1988 pela China, ganhou a prata em Atlanta-1996 por Taiwan.
Quando a economia chinesa não era tão forte, atletas da seleção nacional se mudavam para outros países. Campeã em Seul-1988 pela China, Chen Jing (à esquerda, com Deng Yaping e Qiao Hong) ganhou a prata em Atlanta-1996 por Taiwan.

Nesse sentido, achei muito interessante o artigo: “Como a proeza do tênis de mesa da China explica a sua economia”, do americano Tom Orlik, que é economista e também um mesatenista amador. Apesar de vários pontos do sistema chinês merecerem crítica (como o treinamento mecânico sobretudo na base, a corrupção e a política intrusiva do governo), o autor – que viveu mais de 10 anos em Pequim – cita três fatores positivos, cujos trechos principais traduzo abaixo:

Enorme celeiro de craques

Há cerca de 1,4 bilhão de chineses. A maioria deles experimenta o tênis de mesa, fazendo do lugar um grande celeiro de craques. Tantas pessoas jogando também criam um ambiente propício ao desenvolvimento – mais parceiros de treino, mais incentivos para melhorar, maior retorno do investimento em instalações. O treinamento pode ser mecânico, mas isso leva os jogadores às fronteiras da técnica, onde ocorrem lampejos de gênio.

Pesquisa intensa sobre os destaques do exterior

Assim que um jogador se destaca ou apresenta um novo golpe, os técnicos chineses começam a estudá-lo. E oportunidades para estudar mesatenistas estrangeiros não são difíceis de encontrar; os melhores do mundo querem treinar na China.

Incentivo à alta performance

O sistema educacional da China também é mecânico, quando comparado à abordagem mais criativa e centrada na criança, preferida por muitos no Ocidente. E a China também produz milhares de especialistas em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática a mais que os Estados Unidos. Isto é: com a competição acirrada por vagas nas melhores universidades e empresas, os estudantes chineses têm fortes incentivos para performarem bem.

Mas nem tudo são flores…

Ao mesmo tempo, o governo da China ainda luta contra a corrupção endêmica e costuma se intrometer nos negócios, nos mercados e até na vida familiar para obter os resultados que deseja. Mas as autoridades também têm foco no desenvolvimento. Até agora – como mostra a ascensão da China no ranking global do PIB – a corrupção e o estatismo não os impediram de cumprir este plano.

…na economia chinesa

Os negócios da China – apoiados por Pequim – são ávidos para adquirir propriedade intelectual estrangeira, com reguladores muitas vezes exigindo transferência de tecnologia como condição para entrada no mercado.

Os EUA tentam conter esta situação. Mas, assim como os mesatenistas de outros países, as empresas estrangeiras continuam indo até a China. A atração do mercado gigante é tão grande que vale a pena “pagar o preço” pela propriedade intelectual perdida.

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No fim das contas, o tênis de mesa e no desenvolvimento nacional, talvez o sucesso se resuma a alguns elementos essenciais. Tamanho importa. O planejamento importa. Os incentivos importam. Quando um país tem esses três fatores trabalhando a seu favor, como na economia chinesa, os negativos em outras áreas podem se tornar mais ou menos secundários.

Obs: Concordemos ou não com a forma como o esporte é conduzido na China, fato é que vimos o tênis de mesa do país crescer com a sua economia. E os resultados têm refletido esta realidade.

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