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Assunção-2025

 

Medalha do ciclismo de pista no Pan Júnior veio após quatro anos de entrosamento



Luan Rodrigues e Pedro Freitas treinaram por quatro anos para conseguir a sintonia perfeita em Assunção-2025 e sair com o bronze



Luan Rodrigues e Pedro Freitas com o bronze do madison ciclismo de pista
(Foto: Luhan Grolla/RuasMidia)

De Assunção – A única medalha do ciclismo de pista do Brasil nos Jogos Pan-Americanos Assunção-2025 começou a ser conquistada quatro anos atrás. Dia após dia, treino após treino, Luan Rodrigues e Pedro Freitas conseguiram a sintonia perfeita para levar o bronze na Madison, uma das provas mais técnicas do ciclismo de pista. De volta aos treinos, a dupla busca novos feitos para um dos esportes mais tradicionais do programa olímpico.

O resultado começou a ser gerado quatro anos atrás, quando Luan foi para Indaiatuba e começou a treinar com Pedro. Esse encontro aconteceu pouco depois de Otávio Augusto Gonzeli e Pedro Guilherme Rossi conquistarem o bronze na mesma prova durante os primeiros Jogos Pan-Americanos Júnior. Esta também foi a única medalha do ciclismo de pista em Cali-2021.

Madison é uma prova em que o entrosamento é essencial

A medalha é conquistada aos poucos. E foi justamente assim ao longo dessa caminhada por quatro anos rumo ao pódio pan-americano júnior. A madison é uma prova em que uma dupla de ciclistas percorre 120 voltas, num total de 30 km, no masculino, revezando-se para dar um sprint a cada doze voltas, que valem pontos. Ana Paula Finco e Ana Júlia Santos, que terminaram em sexto lugar na madison feminina em Assunção-2025, contam que o mais importante é a troca. No feminino, são 80 voltas, que equivalem a 20km, em um total de 10 sprints. 

Pedro Freitas e Luan Rodrigues nos Jogos Pan-Americanos Júnior Assunção-2025
Pedro Freitas e Luan Rodrigues nos Jogos Pan-Americanos Júnior Assunção-2025 (Foto: Felipe Poga / II Juegos Panamericanos Asuncion 2025.)

“Não é só correr. O mais importante é o câmbio, tentar se poupar e não perder os câmbios. Isso define a prova. Não é uma prova só de força, é uma prova de técnica. Saber aproveitar e fazer o câmbio na hora certa para que a outra possa descansar. Tem que ter muito entrosamento na dupla”, explicou Ana Júlia.  “Eu sei que se a gente continuar, consegue resultados melhores”, completou a atleta, dizendo ainda que Assunção-2025 foi a primeira vez em que competiu na Madison.

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A medalha é conquistada aos poucos. E foi justamente assim que Luan Rodrigues e Pedro Freitas cresceram na prova, após uma queda de três atletas, que quase derrubou Luan. O brasileiro conseguiu se manter bem na prova, apesar do susto, e a dupla venceu o quinto sprint, além de se manter firme nas parciais seguintes, terminando com 19 pontos, à frente da Argentina, e atrás da Colômbia e do México.

“A Madison é uma prova bem confusa para quem olha de fora e imagina quem tá dentro, né”, resume Luan. “A Madison está sujeita a isso, em qualquer lugar do mundo acontece esse estouro, só tem que manter a cabeça fria, achar um buraco e fugir dele”, comentou Luan, ressaltando o espírito olímpico que existe entre os competidores. “Todos pararam um pouco e esperaram eles voltarem. Ninguém quer ver isso acontecer… mas a gente sabe que acontece”. 

Superação de atletas em 2025

Luan Rodrigues e Pedro Freitas são atletas da Indaiatuba Cycling Team, equipe que se dedica exclusivamente ao ciclismo de pista. “Ela tem toda uma estrutura, toda uma visão de prova e de futuro dentro da pista também. Tudo isso por conta da prefeitura de Indaiatuba”, disse Luan. Ele sabe que precisa de uma estrutura mais robusta para subir de nível e continuar evoluindo no esporte. Cada treino, ao longo dos últimos quatro anos, foi fundamental para subir ao pódio. 

“Inclusive, gostaria de agradecer ao Time Brasil por toda estrutura durante o evento, e em especial à Confederação Brasileira de Ciclismo que acreditou no meu potencial! Ao Sr. José Vasconcellos e ao meu técnico Armando Camargo que vinha trabalhando cada detalhe em cima do que eu precisava junto ao Time Brasil para que tudo saísse conforme o planejado”, acrescentou o atleta.

Pedro Freitas, bronze no madison do ciclismo de pista, fala sobre lesão no instagram
Pedro Freitas, bronze no madison do ciclismo de pista, fala sobre lesão (Reprodução/Instagram)

Pedro Freitas também enfrentou muitos desafios antes de brilhar em Assunção. Em seu último treino antes do Campeonato Nacional de Pista, em fevereiro deste ano, ele fraturou a fíbula. O atleta só voltou a pedalar apenas em maio, tendo pouquíssimo tempo de treino.

Novas conquistas passam por investimentos no ciclismo de pista

Luan sabe se quiser alçar voos mais altos, ainda há muito a se fazer no ciclismo de pista do Brasil. Perguntado sobre as expectativas para o próximo ciclo olímpico, ele é realista ao reconhecer que, antes de tudo, é necessário investimento, já que praticamente todo o calendário de competições internacionais acontece na Europa. “Eu acho que nós, atletas, não podemos falar sobre isso. É um assunto do Comitê Olímpico (COB), né? Se eles tiverem interesse em fazer um ciclo olímpico, a gente está aqui para dedicar nossa vida a isso, com todo amor e com toda vontade”, declarou Luan.

O último brasileiro a disputar os Jogos Olímpicos no ciclismo de pista foi Gideoni Monteiro, que conseguiu a classificação via ranking na Rio-2016. Antes dele, a última representação havia sido em Barcelona-1992. 

Além disso, segundo Armando Camargo Filho, técnico de Indaiatuba, e que acompanhou a dupla em Assunção-2025, há apenas cinco pistas de ciclismo em atividade. Além do velódromo olímpico no Rio de Janeiro, as de Americana, Indaiatuba, no estado de São Paulo; Curitiba e Maringá, no Paraná.

Medalha veio após dia exaustivo no omnium

Na véspera da disputa da Madison, Luan Rodrigues disputou o omnium, uma prova em que os atletas somam pontos em quatro eventos. Após vencer o scratch, primeiro evento do dia, ele chegou à última disputa do dia em terceiro lugar geral. No entanto, terminou em oitavo lugar na corrida por pontos, e na mesma colocação na classificação geral. Quando perguntado pelo Olimpíada Todo Dia se buscou alguma estratégia específica para conquistar a medalha, revelou a necessidade de mais provas para alcançar uma melhor performance.

“Na verdade, sempre tem toda uma estratégia, só que para ser executada, a gente precisa ter perna. Quem tem vai, quem não tem fica. Então, teve sim uma estratégia, mas eu não tive (perna) para ir. Às vezes, a pista é um esporte à parte que a gente precisa estar correndo, a gente precisa correr mais, a gente precisa estar dentro porque é uma prova muito rápida. Deu mais do que 50km/h de média no omnium, então se você não tiver o ritmo na perna, não vai. Então você precisa estar correndo, participando das provas, não só treinar”. 

Com um sorriso no rosto de quem não perdeu a confiança, ele havia revelado que “Eu fico triste hoje de não estar em cima do pódio para inspirar mais crianças a quererem seguir a mesma carreira que eu estou seguindo”. No dia seguinte, ele pôde finalmente subir ao pódio, esperando continuar fazendo história pelo Brasil, e inspirar uma nova geração de ciclistas.

Interessado em cinema, esporte, estudos queer e viagens. Se juntar tudo isso melhor ainda. Mestrando em Estudos Olímpicos na IOA. Estive em Tóquio 2020.

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