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Após esclarecimento, Tifanny decidiu seguir para o feminino

Após conversa com seu empresário, Tifanny entendeu que poderia jogar torneios femininos de vôlei

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Uma conversa importantíssima com a primeira atleta transexual da Superliga de vôlei. Tifanny Abreu contrariou as estatísticas da população transexual no Brasil. Num país que mata um transexual a cada 48h (dados de 2017 da ONG Transgender Europe), onde a expectativa de vida de uma pessoa trans não passa dos 35 anos e onde 90% delas precisa recorrer à prostituição para sobreviver, @tifannyabreu10 saiu da invisibilidade e virou protagonista. Isso incomodou e incomoda muita gente que, do dia para noite, vira especialista em Ciência Esportiva para negar a Tifanny um espaço que ela já conquistou. O papo foi esclarecedor sobre a falta de oportunidades para as pessoas trans na sociedade e sobre a representatividade que Tifanny traz para uma população que sempre viveu às margens. Conversamos sobre os “mitos” que se criaram em torno da participação de transexuais no esporte, a suposta “vantagem” competitiva que mulheres trans teriam sobre mulheres cis e outros tantos argumentos vazios que já disseram para tentar barrar a inclusão de atletas transgênero nas competições. “Eu mesma era leiga como todas as pessoas que me atacam”, disse a jogadora. O mais importante é que a presença de Tifanny em um dos principais campeonatos esportivos do país abre outro caminho para a população trans. Um caminho de protagonismo, e não de invisibilidade. Vale a pena abrir a cabeça e aprender com ela.

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Aos 35 anos, a ponteira/oposta Tifanny ainda sofre com preconceito e dilemas sobre poder ou exercer sua profissão. Primeira transsexual a atuar no vôlei brasileiro, a jogadora participou de live no Instagram com as “Dibradoras” e comentou sobre sua história no esporte.

Tifanny jogou em torneios de vôlei masculino até os 29 anos, quando começou o processo de transição hormonal. Ao se decidir por esse caminho, ela foi procurada por seu empresário para saber o que ela desejava. Foi quando ele explicou o que a jogadora poderia fazer.

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“Meu empresário perguntou se eu queria jogar no feminino, quando comecei a transição. Tinha algum tempo de contrato e eu me neguei porque achava que poderia ‘matar’ uma menina no jogo. Era totalmente leiga. Ele me ensinou que ao fim da transição, com a documentação totalmente feminina e estando dentro das regras, eu poderia jogar entre as mulheres e fui em busca disso”.

O processo de transição de Tifanny foi um pouco demorado. No caso, para conseguir se enquadras nas regras para atletas transsexuais no vôlei, a atleta demorou cerca de quatro anos.

Presença de Tiffany na Superliga gera polêmica nas redes sociais
Mesmo após 2 anos e meio atuando na Superliga, o caso de Tifanny ainda gera polêmica (Divulgação Vôlei Bauru)

Dentro das regras

“É preciso fazer uma harmonização hormonal e você precisa esperar para ver o que vai acontecer com o seu corpo. Varia muito de atleta para atleta. No meu caso durou cerca de quatro anos. Tem atleta que demora três, demora cinco. Tem gente que sofre com crise de ansiedade, tem gente que tem outros problemas. Vai muito de atleta para atleta”.

A FIVB (Federação Internacional de vôlei), tem como regra o que o COI (Comitê Olímpico Internacional) definiu para o atleta transsexual. De acordo com o regulamento, um atleta trans pode ter no máximo até 10 nmol/L* de testosterona no sangue nos últimos 12 meses. Segundo os exames, Tifanny tem 0,2 nmol/L como seu índice padrão. Atletas mulheres cisgêneras podem ter entre 0,21 e 2,98 nmol/L do hormônio no corpo.

Por ser transsexual, além de toda a documentação de uma atleta normal tem que ter, Tifanny precisa ter sempre consigo os exames de testosterona atualizados consigo.

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“É necessário a documentação que prova que você estava dentro da regra de testosterona no último ano. Durante a competição os testes e o controle segue como um exame antidoping. Se eu for jogar contra algum clube e esse time pedir o meu exame de testosterona eu preciso apresentar, assim como se fosse o caso de uma federação, confederação pedindo”.

O “Hulk” jogou a Superliga

Tifanny chegou para atuar no Brasil no fim de 2017. Por ser a primeira transsexual a atuar em uma competição profissional no vôlei brasileiro, a atleta ouviu muita coisa, mas não culpa a maioria das pessoas.

” As maioria das pessoas são leigas no assunto e falam muita coisa errada. Muitos não sabem como analisar e reproduzem o que escutam. Disseram muita coisa que não é verdade. Disseram que o ‘Hulk’ estaria jogando a Superliga com as mulheres”, relembrou.

Cerca de dois anos e meio após estrear em solo brasileiro, Tifanny ainda sofre com alguns comentários por conta de sua transsexualidade no esporte. Quando questionada sobre esse fator, a atleta é direta.

“Só se falam sobre esses pontos quando a atleta trans vence, conquista. Quando se perde, não é nem comentado. Por que? Só vale falar e criticar quando eu ganho?”, pergunta TIfanny.

*nmol/L: Escala que quer dizer nanomol por litro. Usada para medir a quantidade de partículas encontradas no sangue das atletas.

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