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Tênis

A ascensão de Luisa Stefani e a adversária que virou parceira

Melhor duplista do Brasil, Luisa Stefani achou em ex-adversária a parceria quase perfeita para decolar no circuito da WTA

Luisa Stefani é a melhor brasileira no ranking da WTA de duplas
Tenista Luisa Stefani e a parceira Hayley Carter (Facebook/luisa.stefani)

No início de 2019, Luisa Stefani, 22 anos, era a número 182 no ranking de duplas da WTA. Passado um ano, a tenista saltou para a 45ª posição. Uma parceira à altura, foco e doses de ousadia alavancaram a carreira da brasileira no circuito mundial.

“2019 foi um ano ótimo para mim.” Títulos, crescimento como tenista e uma enorme capacidade de se reinventar. Versatilidade nos pisos (foi campeã na grama, no saibro e piso rápido) e nas parcerias, já que conquistou títulos com três tenistas diferentes. Esse foi o 2019 da melhor duplista brasileira da atualidade. E olha que foi o primeiro ano totalmente profissional.

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Parceria de sucesso

“Eu nunca gostei de jogar contra ela, me incomodava muito quando eu a enfrentava. Acho que essa é uma característica muito boa para se ter ao lado.”

A americana Hayley Carter, 24 anos, já tinha sido adversária de Luisa Stefani em várias ocasiões. “A gente jogou diversas vezes contra na faculdade, simples, duplas, e também no profissional algumas vezes. Então já conhecia ela do circuito, mas a gente nunca tinha combinado de jogar, nem nada desse tipo.”

Hayler Carter, parceira de Luisa Stefani e responsável direta pela subida no ranking de duplas da WTA
Hayley Carter, parceira de Luisa Stefani no Circuito da WTA (Facebook/hayleycarter)

A parceria improvável acabou surgindo inesperadamente. Improvável porque as duas nunca tinham conversado sobre formarem uma dupla. Inesperada porque foi Hayler Carter que fez o primeiro contato.

“As duas estavam na mesma posição de não estar jogando com uma parceira constantemente. Ela também estava procurando uma parceira na Ásia. Ela me mandou uma mensagem ‘Lu, quer jogar esses torneios? Coreia, Uzbequistão, Áustria e Luxemburgo?’ Na hora eu topei.”

Resultado? Um título no Tashkent Open, um vice em Seul, uma semifinal em Luxemburgo e somente uma eliminação de cara, em Linz. “Eu acho que na época foi mais o conforto de ter uma parceira fixa. Eu via o jogo dela de uma maneira muito legal, achei que seria uma boa oportunidade para dar um chance e ver o que aconteceria, não tinha nada a perder.”

Com o entrosamento dentro e fora de quadra, a dupla Luisa Stefani e Hayley Carter seguiu firme em 2020. “É muito legal ter essa mentalidade de estar garantida com uma parceira por tanto tempo, fora que gosto muito dela como pessoa.”

Em 2020, Luisa Stefani e Hayley Carter já faturaram um título antes da pandemia paralisar o calendário do tênis mundial. Pelo Challenger de Newport, nos Estados Unidos, foram quatro vitórias da dupla e apenas um set perdido, ainda na primeira rodada e no tie-break. “Feliz com o tênis que eu estava vindo, mas tranquila quando tudo isso voltar.”

Luisa Stefani, à esquerda, e Hayley Carter com os troféus do WTA de Newport Beach de tênis

Foco total

Todo tenista já se dividiu entre simples e duplas. Faz parte do aprendizado. As dimensões são outras, nem toda bola passa por você, é preciso estar sempre alerta e treina-se voleio na rede. Profissionalmente, tenistas se dividem ainda mais, tanto para se manterem ativos no circuito e treinarem em alto nível, como para receberem uma grana extra. Com Luisa Stefani não é diferente.

“Meu ranking de duplas, comparado com o de simples, é muito melhor, e eu decidi focar nas duplas por causa disso. Sem falar que os torneios da WTA financeiramente são muito mais viáveis, muito melhor em vários aspectos. Isso também é uma das minhas motivações para focar nas duplas por enquanto, mas ainda pretendo jogar simples e bolar um calendário que dê para jogar os dois.”

Com títulos conquistados e uma ascensão meteórica no ranking de duplas, parece uma decisão fácil para Luisa Stefani seguir nas duplas. Mas não é tão simples assim. “Dei a cara a bater algumas semanas. Deixei jogar algumas semanas de simples para jogar só duplas. Foi uma decisão difícil para mim dentro do tênis, mas foi um investimento que valeu a pena.”

E de decisões difíceis, ela não tem medo. Dá a cara mesmo.

Decidida

Luisa Stefani trancou o curso de publicidade na Pepperdine University, Califórnia e se jogou no mundo profissional. Na primeira tentativa, as coisas não saíram como planejado. A saudade apertou, planejamento, ou melhor a falta de um, pesaram e ela retornou para jogar no universitário.

E como jogou. Em 2018, no Torneio da NCCA, foram cinco jogos e três vitórias defendendo a Pepperdine University, campeã nove vezes da Divisão I da principal associação universitária dos Estados Unidos.

Luisa Stefani jogando tênis pela Pepperdine University
Luisa Stefani em ação pela Pepperdine University (Instagram/luisastefani)

Mas da segunda vez que trancou a faculdade de publicidade, após apenas seis meses de volta à Pepperdine, a decisão de jogar profissionalmente estava tomada novamente. “Acho que 2019 foi um ano muito consistente, fui bem nas duplas, fui subindo no ranking gradualmente. Uma das minhas metas era jogar um Grand Slam. E eu consegui entrar em Roland Garros, e aquela semana foi muito especial para mim, para mostrar que lá era aonde eu queria estar.”

E 2020 teve Australia Open, onde Stefani e Carter acabaram caindo nas oitavas de final. “Esse ano foi um ano super positivo até agora. Obviamente tivemos duras derrotas, mas estou no meu melhor ranking de duplas da carreira. Agora é muita paciência para o que vem pela frente.”

Melhor ranking na WTA e melhor momento da carreira. E Luisa Stefani está como boa parte do mundo, em quarentena em meio à pandemia de coronavírus. “Todos estão no mesmo bote. Torcer para que tudo volte ao normal, torcer para que a situação mundial melhore logo, para que a gente possa jogar tênis.”

Em tempos de corona

“Minha quarentena não posso reclamar, estou aqui na Flórida, no meu apartamento, em Tampa. Aqui também está tudo fechado, só supermercado e farmácia abertos, mas por sorte tenho muito espaço, tenho um gramadão do lado de casa e dá para eu fazer todos os exercícios”

E tênis? “Consegui bater bola algumas vezes, mas nada mais que isso”. Este é o único momento que Stefani parece mais chateada. No restante, é muita animação, um sorriso fácil e constante.

“Todos os dias eu tenho exercitado, estou tocando violão, cozinhando, montando um quebra cabeças de duas mil peças, fazendo um curso de mudanças climáticas online, que é uma coisa que eu me interesso muito.”

Infelizmente, não teremos a chance de ver Stefani em Wimbledon esse ano. Roland Garros está, por hora, adiado. E as instalações do US Open estão sendo usadas como hospital auxiliar em Nova York. Em meio à incerteza do calendário do tênis mundial, a principal duplista brasileira aguarda plena.

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