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Mulheres em cargos de comando, por que ainda é tão raro?

Ainda hoje, é difícil vermos mulheres ocupando cargos de comando, sejam eles técnicos ou administrativos. Mas por quê?

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Lucélia é treinadora de Douglas Brose, maior carateca do Brasil (Instagram/luceliabrose)

Quantas mulheres treinadoras você conhece? Alguns nomes vêm à cabeça, mas sim, são poucos. Em meio à uma avalanche de informações que nos rodeiam diariamente, às vezes não paramos para pensar no assunto. Mas é fato que ainda é raro vermos mulheres em cargos de comando, seja técnico, administrativo… Nesta semana, me peguei pensando sobre isso depois de uma fala em uma entrevista para o Dia dos Namorados com Lucélia Brose, a primeira atleta brasileira a conquistar quatro medalhas de ouro consecutivas em Jogos Pan-Americanos, levantou um ponto interessante. Além de ser casada com Douglas Brose, ela é também treinadora do maior carateca da história do Brasil.

“Socialmente, minha história com o Douglas no caratê é muito importante. Porque ele é um dos melhores atletas do mundo e vai ser por muitos anos o maior carateca do Brasil. E o fato de ele confiar a carreira dele a uma mulher é muito importante socialmente. Porque com certeza, no patamar que o Douglas está hoje, qualquer técnico do mundo ia querer atuar com ele. E ele escolheu uma mulher. E ele não me escolheu porque sou a esposa dele, mas porque ele realmente acha que eu posso contribuir de alguma forma. Isso é muito forte e eu acho extremamente importante, ainda mais nos dias de hoje que a gente tem tentado desconstruir vários paradigmas”.

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Em março, o OTD fez uma matéria para o Dia Internacional da Mulher falando sobre a participação feminina nos staffs das equipes. E apesar de ter um número considerável e crescente de mulheres em alguns cargos de equipes multidisciplinares, como psicólogas, nutricionistas, mas em outros, não acontece o mesmo. É o caso justamente de técnicas, gestoras, diretoras, médicas, preparadoras físicas, além de árbitras.

Você sabia que uma brasileira foi apenas a segunda mulher do mundo a ser árbitra do UFC? Pois é. E não faz tempo, não. Foi em 2015. E Camila Albuquerque é, ainda hoje, a única mulher árbitra do Brasil licenciada pela CABMMA (Comissão Atlética Brasileira de MMA).

Isso se reflete nas próprias modalidades femininas. No futebol, apesar de ter Pia Sundhage no comando da seleção, no Campeonato Brasileiro 2020, apenas dois times entre os 16 participantes têm mulheres treinadoras: Patrícia Gusmão, do Grêmio, e Tatiele Silveira, da Ferroviária. No basquete, dos oito times da LBF deste ano, apenas um, o Santo André, tem um comando feminino: o da experiente Arilza Coraça. 

E não pense que é apenas no Brasil. Nas duas últimas edições de Olimpíadas de verão, apenas 11% do total de treinadores era mulher. Em 2019, na WNBA (liga feminina de basquete dos EUA), cinco dos 12 times eram treinados por mulheres. 

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Se essa é uma realidade em modalidades femininas, nas masculinas é ainda pior. Adivinha quantos dos 30 times da NBA têm mulheres treinadoras? Nenhum. E no NBB? Nenhum também. 

Para além dos campos, quadras, tatames, etc, há também a questão de mulheres em cargos de comando administrativos e executivos. Uma tese de mestrado intitulada “A trajetória das mulheres gestoras nas organizações futebolísticas brasileiras”, de Monique Torga, de 2017, mostrou que de 813 vagas em cargos executivos no Brasil, 63 são ocupados por mulheres. Um total de 7,7%. 

Uma luz no fim do túnel

Apesar de ainda serem minorias, as mulheres vêm conquistam seus espaços no meio esportivo. Mesmo que a passos lentos. E assim como Lucélia Brose e Camila Albuquerque, exemplos de pioneirismo e trabalhos incríveis de mulheres não faltam. É o caso de Nilmara Alves, a primeira mulher da história do futebol brasileiro a ter o seu nome registrado como treinadora no BID (Boletim Informativo Diário) da CBF. 

Em 2018, a japonesa Yuko Fujii se tornou a primeira mulher da história do judô brasileiro a comandar a seleção masculina da modalidade. No ano seguinte, o Corinthians teve, pela primeira vez em sua história, uma médica, Ana Carolina Corte, assinando a súmula e acompanhando a equipe masculina em uma partida oficial.

Neste ano, pela primeira vez no NBB, uma mulher esteve presente na comissão técnica de uma equipe masculina. Rosana Lopes, coordenadora das categorias de base do Corinthians, assumiu o cargo de auxiliar técnica. E na última sexta-feira (12), uma mulher, Stacey Allaster, foi escolhida pela primeira vez em 140 anos de história, para ser diretora do US Open de tênis.

Depois de tudo isso, a pergunta que fica é por que? Por que ainda causa surpresa ver mulheres em cargos de comando? Por que ter um homem treinado por uma mulher ainda é algo tão diferente e inusitado? O que faz com que as pessoas ainda não confiem em um comando feminino? E por mais quanto tempo essa realidade vai durar? 

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