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Vôlei

Após gritos de ‘bicha’, Michael optou pela liberdade

Há quase 10 anos, Michel foi alvo de gritos homofóbicos da torcida durante uma partida da Superliga

Michael gritos homofóbicos
Quando atuava no Vôlei Futuro, de Araçatuba, central foi vítima de gritos homofóbicos (Divulgação Vôlei Futuro)

Assim como em tudo na sociedade, a comunidade LGBTQIAP+ também está dentro do esporte. Sendo um meio que o preconceito existe, das mais variadas formas, o mundo esportivo demonstra, de tempos em tempos, um pouco desse lado. Foi o que aconteceu no começo de 2011 com o central Michael, do vôlei.

Na semifinal da Superliga masculina 2010/2011 o esporte mostrou uma das formas de seu preconceito. Na partida entre Vôlei Futuro e Cruzeiro, disputada em Contagem, Michael foi hostilizado pela torcida mineira. Em todas as oportunidades em que o atleta participava do jogo, seja no saque, bloqueio ou ataque, a maioria do público presente entoava cânticos de “Bicha! Bicha! Bicha!”.

“Eu já havia jogado com pessoas que xingavam. Mas eram sempre uns três, quatro que gritavam “viado”, “bicha”, “gay”, “vai errar o saque”. Como eram poucos, conseguia lidar. Naquele dia, tentei repetir a fórmula, mas tinha uma coisa diferente. Não eram três ou quatro. Era praticamente o ginásio inteiro. Eles berravam em todas as bolas. Em todos os saques”, comentou Michael em entrevista ao portal “UOL”.

Michael 1
Michael também atuou pelo Vôlei Brasil Kirin (Divulgação Vôlei Brasil Kirin)

O central assumiu sua orientação sexual publicamente logo depois do episódio. Se antes, nas palavras do atleta, não existia o sentimento de necessidade pela rotulação, o caso fez com que o entendimento do que ele poderia representar para a comunidade LGBTQIA+ fosse absorvido e a sensação de redenção apareceu.

+Abertura para a diversidade no esporte

“Quando comecei a jogar, nunca pensei que um time ou uma marca pudesse defender um jogador gay, a causa LGBT. Na semana seguinte ao jogo eu sai do constrangimento absoluto para a redenção”.

O que diz a lei

A injúria sofrida por Michael não faz parte do esporte, dos jogos. Segundo o Código do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que rege o esporte como um todo, em casos como o de Michael, em que o ato discriminatório foi feito por uma ou mais pessoas que não são membros de nenhuma das equipes da partida, a pena pode ser:

  • Caso a infração prevista neste artigo seja praticada simultaneamente por considerável número de pessoas vinculadas a uma mesma entidade de prática desportiva, esta também será punida com a perda do número de pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição, independentemente do resultado da partida, prova ou equivalente, e, na reincidência, com a perda do dobro do número de pontos atribuídos a uma vitória no regulamento da competição, independentemente do resultado da partida, prova ou equivalente; caso não haja atribuição de pontos pelo regulamento da competição, a entidade de prática desportiva será excluída da competição, torneio ou equivalente.
  • A pena de multa prevista neste artigo poderá ser aplicada à entidade de prática desportiva cuja torcida praticar os atos discriminatórios nele tipificados, e os torcedores identificados ficarão proibidos de ingressar na respectiva praça esportiva pelo prazo mínimo de setecentos e vinte dias.

No caso, o Sada Cruzeiro se desculpou por meio de nota oficial em seu site, disse não compactuar e não aceitar tais tipos de atitude. Segundo o STJD, a equipe mineira foi multada em R$ 50 mil.

O que foi feito depois

Fora a repercussão e a atitude tomada pelo STJD, o fato que aconteceu com Michael teve outros desdobramentos. O primeiro caso de um atleta assumidamente homossexual no vôlei foi de Lilico, no fim dos anos 90. Michael não foi o primeiro e não será o último, mas marcou a modalidade.

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Nos dias e semanas que se passaram depois daquela partida em abril de 2011, Michael foi abraçado por muitos. Além da repercussão na imprensa, personalidades do esporte se solidarizaram com o ocorrido e falaram em defesa do jogador. A torcida do Vôlei Futuro, clube que o central defendia na época, esgotou as camisas do atleta nas lojas e os companheiros fizeram o que puderam para mostrar que estavam juntos, como foi o caso do líbero Mario Junior que atuou na partida seguinte com uma camiseta com as cores do arco íris, em alusão a comunidade LGBT.

Michael Vôlei Futuro
Uniforme do líbero Mário Jr. na partida seguinte contra o Cruzeiro (Divulgação Vôlei Futuro)

Depois de Michael alguns jogadores já assumiram que sua orientação sexual de forma pública. Entre eles está Douglas Souza. O ponteiro da seleção brasileira e do Taubaté, eleito melhor atleta da modalidade em 2018 pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil), já comentou algumas vezes que independente da orientação sexual de cada um, dentro de quadra todos são atletas e precisam ser avaliados pelo fazem no esporte.

O situação de Michael passou está próxima de completar 10 anos. Neste período, mais atletas no Brasil e no mundo se posicionaram sobre orientação sexual, mostrando

A razão da semana LGBTQIA+

Este texto dá sequência à série de matérias do Olimpíada Todo Dia sobre o tema LGBTQIA+. O período foi escolhido por ser a semana do dia 28 de junho, reconhecido como dia do orgulho LGBTQIA+.

A data ganhou este título por conta do que aconteceu no bar Stonewall Inn, em Nova York, em 28 de junho de 1969. Neste dia, as pessoas da comunidade gay que frequentavam o estabelecimento se revoltaram contra ações policiais que aconteciam com frequência. O levante contra a situação durou cerca de duas noites e, por conta disso, em de 1º de julho de 1970 aconteceu a primeira edição da Parada do LGBT.

Vale ressaltar que o respeito e a visibilidade à comunidade devem prevalecer sempre, assim como a luta pela diversidade no esporte, e não apenas no mês do orgulho LGBTQIA+.

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