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Orgulho LGBTQIA+

O esporte deu a força para Isadora Cerullo ser quem desejava

Ao conhecer o rúgbi na faculdade, a atleta se sentiu mais segura para reconhecer sua orientação sexual

Isadora Cerullo
Através de autorreconhecimento e com o rúgbi achou o caminho para ser 100% ela (reprodução instagram @izzycerullo)

“O esporte me permitiu ser eu mesma sempre. Em tudo que eu faço”. A frase é de Isadora Cerullo. Atleta da seleção brasileira de rúgbi é lésbica e assume que o esporte a ajudou no processo de autorreconhecimento para sua orientação sexual.

Isadora Cerullo tem 29 anos, mora no Brasil desde 2014 e se entendeu como lésbica, segundo definição dela própria, há cerca de 10 anos, quando estava na faculdade. Nascida e criada nos Estados Unidos, Isadora entende que o período que esteve cursando o ensino superior foi primordial para que o processo acontecesse.

“Na faculdade eu me entendi mais, me conheci mais. Foi nela que eu conheci minha primeira namorada e passei a conviver com mais meninas que já eram lésbicas declaradas ou que estavam na mesma situação que eu”.

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Além do lado pessoal, o período em que esteve na faculdade fez com que Isadora Cerullo conhecesse o rúgbi. Segundo a atleta, a modalidade fez com que ela se sentisse tranquila com tudo.

“O rúgbi tem uma questão familiar. Independente do seu tempo nos times e na seleção você consegue se sentir em casa, se sente acolhido. Não é levado em conta essa questão da orientação sexual, se você é magro, alto, forte, fraco, baixo. Se entrou no time já faz parte do time e é uma união. Pelo que eu vejo em relação com outras modalidades, isso que acontece no rúgbi é raro, é uma exceção. O esporte me permitiu ser eu mesma sempre Em tudo que eu faço”.

‘Importante é a sua felicidade’

O costumeiro nos Estados Unidos é os alunos das universidade acabarem estudando bem longe de suas cidades de origem. Contudo, no caso de Izzy a Universidade de Columbia ficava a cerca de duas horas de sua casa.

+ Try do amor: A história de Isadora Cerullo e Marjorie Enya

A proximidade fez com que as coisas acontecessem de forma mais tranquila para Cerullo. Apesar de assumir que teve seus dilemas e dificuldades internas com a orientação sexual, mas a forma como seus pais entenderam e ajudaram foi essencial.

“No começo da faculdade eu comecei a namorar uma menina. Um dia, fazendo uma viagem com algumas amigas paramos na casa dos meus pais para jantar e, quando eu estava com eles lavando a louça, comentei que uma das meninas era minha namorada. Lembro que o minha mãe olhou para mim e perguntou se eu estava feliz. Confirmei que sim e a ela me disse que o importante era a minha felicidade”.

Todo caminho tem suas pedras e flores

Apesar de ser acolhida por sua modalidade e seus pais, Isadora Cerullo também teve suas pedras no processo de autorreconhecimento. “A sociedade ainda não vê como normal as pessoas da comunidade LGBTQIAP+, infelizmente. Sei que hoje estamos em um cenário melhor do que antes, mas espero que as próximas gerações não passem pelo que existe hoje”.

Norte americana de nascimento e criação, a atleta não vê tantas diferenças entre os dois países. Quando perguntada sobre o preconceito e se já sofreu algum tipo de discriminação por ser lésbica, Isadora Cerullo traz a tona um fato que a incomoda.

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Happy Pride, Brazil! These 2 grandmas ✌🏽👵🏼👵🏼 showed up to celebrate (for 2 blocks of the parade). Today, especially, I’m thinking of those who fought before me to be themselves and be accepted; those who were born into unaccepting families; those who can’t be out for whatever reason; those who have been hurt or killed for simply being themselves. I’m proud to be me, proud to be married to @marjorieenya. This Pride is how we fight back against the hate, against those who believe we should feel shame, against the idea that there is something wrong with us. #pride #pride2019 #outandproud #wifeandwife #lovewins #loveislove #lovetrumpshate #lgbtq #lgbtqia #beyourself

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“Estados Unidos e Brasil são bem parecidos no tratamento. Talvez lá esteja alguns passos na frente, mas basicamente é igual. Lá ou aqui eu nunca sofri aquele preconceito direto e claro, mas tem uma história que me incomoda. No rúgbi tem uma frase que não é dita, mas é sabida. “Só é boa porque é lésbica”. Não, não é assim. Eu sou boa no que eu faço e sou lésbica. São duas coisas diferentes e que não estão ligadas”.

Aulas no relacionamento

Isadora Cerullo é casada desde 2017 com Marjorie Enya. Durante o período em que esteve com sua esposa, Izzy não esconde o quanto evoluiu. Quando o assunto é sua orientação sexual, a atleta é direta e não esconde a felicidade e emoção.

Isadora Cerullo e Marjorie Enya
Isadora Cerullo e Marjorie Enya no dia do casamento nos Estados Unidos (Arquivo pessoal)

“Ela me ensinou e ensina todos os dias. Ela me mostrou que eu não preciso pedir desculpas por ser eu. Eu não preciso ficar incomodada por não conseguir deixar todos felizes. Eu preciso ser eu. Sempre eu e ela me ensina isso. Ela é incrível”.

Uma década depois de se reconhecer como lésbica, Isadora Cerullo se vê diferente e não apenas na idade. “Tenho muito mais confiança para ser eu. Esse período e o que aconteceu nele me fez entender que eu preciso ser o que eu quero ser. Sou muito mais forte e tenho mais coragem”.

Segundo a definição do dicionário de nomes, Isadora quer dizer “dádiva de Isis”, em referência a deusa egípcia da maternidade e da fertilidade. Na vida de Cerullo, a sua orientação sexual trouxe um presente para a atleta. O autorreconhecimento como lésbica permitiu que Izzy fosse ela. 100% ela.

A razão da semana LGBTQIAP+

Este texto dá sequência à série de matérias do Olimpíada Todo Dia sobre o tema LGBTQIAP+. O período foi escolhido por ser a semana do dia 28 de junho, reconhecido como dia do orgulho LGBTQIAP+.

A data ganhou este título por conta do que aconteceu no bar Stonewall Inn, em Nova York, em 28 de junho de 1969. Neste dia, as pessoas da comunidade gay que frequentavam o estabelecimento se revoltaram contra ações policiais que aconteciam com frequência. O levante contra a situação durou cerca de duas noites e, por conta disso, em de 1º de julho de 1970 aconteceu a primeira edição da Parada do LGBT.

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