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Vôlei

Douglas Souza quer ser o Lilico que não teve quando jovem

Na semana do orgulho LGBTQIA+,campeão olímpico destaca a importância da representatividade e relembra um caso de preconceito puro no esporte dos anos 2000, que lhe serviu de inspiração para vencer e ser referência para jovens como ele

'Caso Lilico' ajudou Douglas Souza a vencer e inspirar jovens LGBTQI+
Douglas Souza conquistou muito no vôlei, mas cresceu sem ter uma referência que fosse como ele é (montagem/OTD Instagram/Douglassouza12)

No próximo domingo, dia 28 de junho, celebra-se mundialmente o Dia do Orgulho LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, travestis, trangêneros, queer e intersexuais). Na tentativa de ajudar no combate ao preconceito e celebrar a diversidade de cada um, o Olimpíada Todo Dia (OTD) lança uma série de reportagens com atletas que conviveram – e ainda convivem – com a descriminação e hoje fazem o possível para serem representantes da comunidade e dar voz àqueles que se sentem intimidados pelo julgamento preconceituoso.

Na primeira dessas matérias, falaremos de um dos atletas brasileiros que mais se posiciona sobre o assunto e é referência na comunidade LGBTQIA+. Campeão olímpico e vice-mundial com a seleção masculina de vôlei, Douglas Souza é, hoje, um dos nomes mais conhecidos da nova geração do vôlei brasileiro e inspira diversos jovens talentos a ser como ele.

Um dos inúmeros posts de Douglas Souza na luta contra o preconceito a comunidade LGBTQIA+

Homossexual assumido, Douglas Souza teve que percorrer um difícil caminho até o topo. Não tinha em quem se espelhar quando era um jovem atleta, ainda confuso com as difíceis questões sobre sexualidade que uma criança tem de enfrentar em uma sociedade preconceituosa. Em uma live do canal “Vamo Junto” com o OTD, o ponteiro relembrou.

“Quando eu era mais novo e decidi entrar no meio do esporte, não tinha ninguém que se parecia comigo, que era assumidamente gay, que jogava em alto rendimento e que as pessoas respeitavam. Essa questão, hoje em dia, tá muito em alta e as pessoas precisam disso. Olhar para alguém e saber que aquele atleta é igual a elas.”

“Hoje em dia, a gente tem essa representatividade. Eu acho que eu consegui, de certa forma, chegar até a seleção brasileira, me manter, alcançar meu sonho de ser campeão olímpico, sendo eu. Sem esconder quem eu sou, ou o que eu gosto de fazer. É o jeito que eu nasci e eu posso conquistar qualquer coisa que eu quiser, do jeito que eu quiser,” completou.

Na semana do orgulho LGBTQI+, contamos como Douglas Souza se inspirou no 'Caso Lilico ' para vencer no vôlei e ser refência para jovens homossexuais
Campeão olímpico na Rio 2016, Douglas Souza (penúltimo na fila) chegou até o topo sem ter uma referência homossexual no esporte para se inspirar

O ‘Caso Lilico

Mesmo tendo crescido sem a referência de alguém que se parecesse com ele, o campeão olímpico lembrou um conhecido caso do vôlei brasileiro que lhe serviu de motivação para superar as adversidades e mostrar aos outros como ele que é possível ser bem sucedido no esporte tendo uma orientação sexual diferente.

+ Douglas Souza e Carolina Kumahara falam sobre representatividade no esporte

“A gente tinha o Lilico. Ele era assumidamente gay. E o que a gente conhecia dele é que ele sofria um certo preconceito, porque ele nunca era convocado pela seleção brasileira. Ele sempre foi muito bom, mostrava isso nos números, sabe? Estatisticamente falando. O fato é que ele era gay. Por que que ele não era convocado sendo que ele era era bom?, ” questionou Douglas Souza.

O ponteiro se refere ao ex-jogador de vôlei Luiz Cláudio Alves da Silva, mais conhecido como Lilico, falecido em 2007, aos 30 anos, em decorrência de um AVC. Lilico foi um dos primeiros atletas brasileiros que assumiu ser homossexual.

Na semana do orgulho LGBTQI+, contamos como Douglas Souza se inspirou no 'Caso Lilico' para vencer no vôlei e ser referência para jovens homossexuais
Lilico em entrevista antiga comentando sobre não ser convocado por ser gay (reprodução/globoesporte.com)

Em 1999, à época da convocação para os Jogos Olímpicos de Sydney-2000, Lilico chegou a afirmar que o preconceito por ser gay teria lhe tirado a chance de defender a seleção, uma vez que ele não foi convocado pelo então técnico Radamés Lattari.

Dono de um saque poderoso que chegava a atingir 100km/h e de um ataque com alcance de 3,55 m, Lilico era um grande atleta e conquistou diversos títulos pelas equipes pelas que defendeu. Foi campeão brasileiro de seleções juvenil em 1994; bicampeão da Copa Sudeste; campeão da Copa Brasil em 1994; vice-campeão mundial juvenil em 1995; campeão do Challenger Brasil 01; campeão Paulista 2000/01; campeão gaúcho de 02, campeão da Superliga 2002/03 e Campeão do Grand Prix 2002/03.

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O Lilico que Douglas não teve

Se o preconceito não fosse tão forte à época, a lista de conquistas de Lilico poderia ser ainda maior, inclusive com a seleção brasileira. O atleta poderia ter se tornado, ainda, a inspiração que Douglas Souza não teve, já que quando o campeão olímpico estava iniciando no vôlei, a carreira de Lilico já estava no fim.

“A partir do momento que eu me via com 10 anos de idade e pensava ‘caraca, não tem ninguém igual a mim’. Eu comecei a pensar ‘tá na hora de alguém chegar lá e mostrar que é possível'”, comentou Douglas Souza.

Mesmo no topo, Douglas Souza não se acomoda e reafirma a importância de ser um atleta de representatividade da comunidade LGBTQIA+, para que não existam mais ‘Casos Lilico’ no esporte

“É extremamente importante se posicionar. E é o que eu tento fazer da minha vida, o que eu tento levar como objetivo. Atingir o máximo de pessoas possível que eu consiga alcançar, mostrando quem eu sou,” finalizou Douglas Souza.


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