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Olimpíada

Mulheres: as vozes e a luta do esporte feminino brasileiro

O Olimpíada Todo Dia deu voz às grandes personagens do esporte feminino brasileiro. Confira!

Reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1977, 8 de março é dia de valorizar as conquistas femininas, assim como também é um dia de luta e empoderamento. As homenagens que as mulheres costumam receber neste dia, geralmente, não apresentam reflexão sobre o tema. Além disso, também não mostram a realidade e, por este motivo, o Olimpíada Todo Dia decidiu dar espaço a elas.

O Brasil tem grandes nomes no futebol, vôlei, basquete, vôlei de praia, tênis, boxe, entre tantos outros esportes. Mesmo que para a maioria das atletas não tenham faltado estímulos – grande parte deles encontrados dentro da própria família -, ainda existe uma lacuna entre o esporte feminino e o masculino. Apesar disso, visão da maioria tem sido otimista. Vamos, juntas, conferir e nos inspirar em alguns relatos?

Tandara

Tandara - esporte feminino

João Neto/Fotojump

Maior pontuadora da Superliga feminina de vôlei 2017/2018, Tandara foi pega de surpresa pela gravidez em 2015, e logo em sequência pela demissão do Praia Clube – equipe que defendia na época. Hoje, vestindo a camisa do Osasco, a oposta vê evolução na participação das mulheres no esporte.

“Acredito que a cada ano que passa, a gente vai conquistando mais espaço. Vejo toda a diferença de quando comecei para os dias atuais. Tanto é que, hoje, em alguns esportes, a mulheres são mais valorizadas que os homens. Acredito que, no decorrer dos anos, a tendência é isso só melhorar cada vez mais”, refletiu.

Para a carreira de Tandara, nunca faltaram estímulos, mas a jogadora sabe das dificuldades do meio e mandou um recado àquelas que desejam seguir no esporte.

“O começo é sempre muito difícil. Eu não sofri preconceito, mas sei que isso acontece para quem está iniciando no esporte. Mas, a partir do momento que a gente quer conquistar o nosso espaço, quer seguir em frente, se é realmente o que a gente quer, tem que mergulhar de cabeça, independentemente do que vai acontecer. Não pode dar muito ouvidos para o que as pessoas pensam e falam quando existe a intenção de prejudicar. Vale pegar o lado bom e positivo de críticas para que a gente acrescente e cresça como atleta e como pessoa”, finalizou a oposta do Osasco.

Andressa Alves

Andressa Alves - esporte feminino

Víctor Salgado/FCB

Um dos destaques da Seleção principal feminina e primeira brasileira a vestir a camisa do Barcelona, Andressa Alves admite que já encontrou dificuldades na carreira de jogadora de futebol, mas não deixa de acreditar em melhoras para o futuro do esporte.

“Acredito que não só eu, como todas as meninas já sofreram algum tipo de preconceito por jogar futebol. Mas cada dia você vai superando isso e tem outras coisas boas em jogar futebol. Acho que com o passar do tempo as coisas vão melhorar em relação a isso”, afirmou Andressa.

Por outro lado, a atleta contou que o apoio da família foi fundamental para que não desistisse. “Não faltou estímulo porque meus pais sempre me apoiaram para jogar futebol, então isso me ajudou muito. Com o apoio deles era tudo mais fácil”, concluiu.

Beatriz Haddad Maia

Bia Haddad - esporte feminino

Divulgação

Tenista número 1 do Brasil e 59º do mundo, Beatriz Haddad Maia marcou a história do tênis feminino brasileiro no início de 2018: foi a 1ª brasileira na segunda rodada do Australian Open desde 1965.

Deixando seu nome marcado na história do esporte, Bia falou sobre a busca pela igualdade de gêneros. “Nunca senti na pele nenhum tipo de preconceito. A gente vem melhorando. Pela igualdade dos prêmios em torneios grandes e Grand Slams, a gente já vem ganhando parecido com os homens, apesar de nos torneios pequenos a diferença ser bem grande. Mas eu acho que tudo tem um porquê e a gente vem conquistando nosso espaço. Fora do esporte também, a mulher vem sendo mais respeitada e, enfim, eu acho que cada vez isso vai melhorar”, atestou a tenista.

Já sobre a veiculação de notícias, Bia atrela aos recordes a diferença de proporção. “Os caras mais rápidos, que saltam mais ou que nadam e etc, a maioria é de muito mais ação da parte deles. Então acho que acaba chamando mais a atenção do público e isso faz com que as pessoas se acostumem a ver mais. Quando a televisão e a internet acabam mostrando um pouco mais do feminino, começam a gostar mais”, ponderou.

Emily Lima

Emily Lima - esporte feminino

Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC

Primeira mulher a comandar a Seleção Brasileira principal feminina, Emily Lima foi demitida do comando da equipe em setembro de 2017. A decisão da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) foi muito contestada, e ainda é questionada pela própria técnica.

“Eu nunca tinha passado por nenhuma rejeição, preconceito ou dificuldade. Eu acho que com a minha saída da Seleção, a minha demissão, eu comecei a enxergar as coisas de outra maneira. Achei bastante estranha a demissão pelos motivos que eles me deram. Então acho que foi o único momento que eu senti isso”, revelou Emily, em conversa com o Olimpíada Todo Dia, ao relembrar se já havia sofrido algum tipo de preconceito na carreira.

Ao falar sobre o contraste de proporção entre reportagens de esportes femininos e masculinos, a atual treinadora do Santos mostrou uma visão mais conformista. “Eu acho que o futebol masculino é o carro chefe no Brasil. O esporte que dá resultado, eles mostram, e isso é natural. Então, acho que não vejo muita diferença nesse sentido, mas o futebol masculino é o carro chefe do país e não tem o que se discutir”, comentou.

Beatriz Ferreira

Beatriz Ferreira - esporte feminino

Reprodução/Facebook

Grande nome e esperança do boxe brasileiro para o ciclo olímpico dos Jogos de Tóquio 2020, Beatriz Ferreira, da categoria até 60Kg, diz não se abalar com o preconceito sofrido.

“Eu deixo passar despercebido e provo que lá em cima do ringue não tem essa, pode ser qualquer um! Mulher ou homem, tanto faz. Eu passo por cima e não deixo isso me atrapalhar em nada não”, garantiu Bia. “Eu não dou credibilidade para esse tipo de coisa”, complementou.

Ainda assim, a atleta reivindica mais chances para o boxe feminino. “Oportunidades, acreditar mais no boxe feminino. Eu acho que se acreditassem mais, a gente poderia ter mais resultados. Mas eu vejo que hoje isso está bem melhor”, expressou. “Talvez, quando você fale de boxe, você já imagine dois caras em cima do ringue se batendo. Mas isso está mudando, a gente está tendo resultados e eu acho que daqui uns dias isso já não vai fazer tanta diferença”, finalizou.

Camilinha

Camilinha - esporte feminino

Divulgação/Orlando Pride

Meia-atacante do Orlando Pride, da Flórida, e com diversas passagens pela Seleção Brasileira, Camilinha compartilha o mesmo pensamento que a colega de profissão, Andressa Alves.

“Já sofri preconceito. Isso aconteceu dentro da minha família, mas foi no início de tudo. Hoje, graças à Deus, todos me apoiam e me ajudam. Mas é bem complicado, a gente ainda sofre um pouquinho com isso, mas são barreiras que estamos quebrando e está sendo muito importante isso para a gente”, disse Camilinha.

“Sempre foi um sonho e eu realizo ele todos os dias assim que eu levanto pela manhã. Eu faço o que eu gosto, o que eu amo, e isso nem é mais um trabalho, é uma diversão”, completou.

Porém, tratando-se de visibilidade e reconhecimento, fica clara a diferença para a atleta. “São poucas as entrevistas e reportagens se tratando de futebol feminino, e nos esportes em geral também sempre frisam mais no masculino, masculino e masculino! Às vezes esquecem das conquistas do feminino e elas são lembradas vagamente por dois minutos, nem isso. Essa é a grande diferença, eu acho que poderia ter um pouquinho mais de igualdade, a gente sofre no geral com isso. Isso podia ser melhorado sim, porque, como eu já disse várias vezes, é o mesmo esporte, jogamos dentro das quatro linhas, fazemos gols, perdemos, ganhamos, então não tem porque ter diferença”, concluiu a jogadora.

Eduarda Santos Lisboa – “Duda”

Duda - esporte feminino

L.C. Moreira/Inovafoto/CBV

Filha da ex-jogadora Cida, estímulos nunca faltaram para Duda no vôlei de praia. “Minha mãe sempre esteve do meu lado, me acompanhando, me ajudando. Isso me fez muito bem”, relembrou a atleta.

Dupla da medalhista olímpica Ágatha desde o início de 2017, a jogadora afirmou nunca ter sofrido preconceito no esporte, mas reconhece a disparidade de tratamento.

“É bem visível, o esporte masculino tem mais reportagens que o esporte feminino. Mas eu vejo que hoje está crescendo mais, querem investir mais nisso, então é muito legal. Aí a gente acaba gostando, fazendo mais as coisas, as mulheres entram mais no esporte. Mas hoje, ainda, o homem, o esporte masculino, é mais visível que o feminino, e isso é notório”, declarou Duda.

Camila Brait

Camila Brait - esporte feminino

Reprodução/Facebook

A líbero do Osasco também passou por uma fase que pode ser difícil para algumas atletas: a gravidez. Camila Brait deu à luz a Alice no dia 26 de novembro de 2017, e a negociação pela renovação de contrato com o clube aconteceu quando a jogadora já estava gestante.

“Nós atletas ficamos com medo de engravidar e não ter nenhum time que queira fechar contrato grávida. No meu caso foi diferente. Mas essa questão precisa melhorar sim. Não são todos os times que fariam o que Osasco fez por mim”, considerou a jogadora de vôlei.

Pouco menos de dois meses após o parto, Camila Brait voltou aos treinos e já planeja o retorno às quadras pelo Osasco. Aos 29 anos, a atleta relata: “nunca sofri nenhum tipo de preconceito por ser mulher e praticar esporte”.

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