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‘Atleta A’ é um soco no estômago obrigatório para o esporte

Documentário da Netflix sobre o escândalo do abuso sexual na ginástica americana expõe uma ferida que ainda não cicatrizou

Abuso sexual ginástica artística Maggie Nichols
A ginasta americana Maggie Nichols, personagem importante no escândalo de abuso sexual que abalou a ginástica americana (Divulgação)

Se você é assinante da Netflix, não pode deixar de assistir ao documentário “Atleta A”, que entrou no ar semana passada na plataforma. Com fortes e emocionantes depoimentos, relembra um episódio cujas feridas ainda não cicatrizaram totalmente: o escândalo de abuso sexual na ginástica artística dos Estados Unidos.

Em 1h44min, o documentário dirigido por Bonni Cohen e Jon Shenk é um soco no estômago do espectador. Relembra todos os caminhos que levaram o médico Larry Nassar, condenado a mais de 120 anos de prisão por abusar de mais de 500 ginastas da seleção americana e da Universidade de Michigan. Pior ainda, mostra como tudo contou com a conivência da própria direção da USAG (Federação Americana de Ginástica).

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Com base em entrevistas devastadoras da ginasta Meggie Nichols e das ex-ginastas Rachael Denhollander e Jamie Dantzscher, o filme tem uma narrativa poderosa e ao mesmo tempo revoltante. Mostra também a importância da cobertura da imprensa para desvendar casos de assédio no esporte. Foi por causa de uma entrevista feita com Rachel que o jornal Indianapolis Star iniciou uma série de reportagens em agosto de 2016, mostrando que a USAG encobria os crimes de Nassar há pelo menos 20 anos.

O título do filme, inclusive, tem a ver com parte desta estrutura podre da federação americana. No processo de investigação das denúncias de abuso sexual feitas por Meggie Nichols, ela foi identificada apenas como “Atleta A”. O documentário deixa no ar também que por causa da denúncia, Meggie foi prejudicada no processo de escolha da equipe americana que competiu na Rio-2016, mesmo tendo integrado o time campeão mundial um ano antes.

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O julgamento de Nassar, quando foi obrigado a ouvir seguidos depoimentos de suas vítimas, olhando com desprezo em seus olhos, é um dos momentos mais fortes do documentário. E mesmo algumas lendas da ginástica não foram poupadas. Ícone da modalidade, o romeno Bela Karoly, ex-técnico de Nadia Comaneci e que ao lado da mulher Marta comandou a parte técnica da seleção principal dos Estados Unidos, não é retratado de uma forma simpática.

Lendas não são poupadas

Pelo contrário, além de expor seus métodos de treinamento rigorosos além dos padrões aceitáveis, o filme mostra que vários dos abusos de Nassar foram cometidos dentro do centro de treinamento que Karoly construiu no Texas e serviu como base da ginástica de elite americana durante anos.

“Atleta A” é doloroso ao relembrar fatos terríveis ainda tão frescos em nossa memória, mas é obrigatório como alerta para todas as entidades esportivas não menosprezarem o risco de ter um abusador dentro de sua estrutura.

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Tanto isso é verdade que o Brasil mesmo sentiu isso de perto. Lembre-se do caso do ex-técnico Fernando Lopes, banido de maneira inesperada da seleção brasileira masculina antes da Rio-2016 e cujos casos de abuso foram denunciados dois anos depois pelo programa “Fantástico”, da “TV Globo”.

Em casos de abuso sexual, o inimigo está onde menos se espera e o documentário “Atleta A” nos deixa isso bem claro.

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