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Laguna Olímpico

Os brasileiros beneficiados pelo boicote aos Jogos de Moscou

Relembre a história dos atletas do Brasil que se deram bem com o movimento liderado pelos Estados Unidos na Olimpíada de 1980

Abertura da Olimpíada de Moscou, que sofreu boicote dos Estados Unidos e países aliados
Crianças dançam na abertura da Olimpíada de Moscou-1980, com a fantasia da mascote Misha (Foto: COI)

O primeiro boicote em massa de países a uma edição de Jogos Olímpicos não é contado apenas com histórias tristes. Houve casos de quem se deu muito bem com a estúpida decisão do presidente americano Jimmy Carter em não apoiar o envio de uma delegação dos Estados Unidos à Olimpíada de Moscou-1980. O esporte brasileiro, por exemplo, foi duplamente beneficiado com o boicote liderado pelos americanos.

Se não fosse pela ausência dos Estados Unidos e de outros 62 países, a seleção masculina de basquete e a feminina de vôlei não teriam participado daquela Olimpíada.

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Nos respectivos qualificatórios continentais, as duas equipes fracassaram, mas acabaram chamadas para substituir os países que desistiram de competir na então União Soviética.

Para o basquete masculino brasileiro, o boicote americano foi uma verdadeira tábua de salvação no prestígio da modalidade. Assim como havia ocorrido quatro anos antes, em Montreal-1976, a seleção masculina não conseguiu classificação pelo Pré-Olímpico das Américas.

Fracasso duplo

Realizado entre os dias 18 e 25 de abril em San Juan (Porto Rico), a competição dava três vagas para a Olimpíada. Se a eliminação em Hamilton (CAN), em 1976, já havia sido um vexame, ficar fora pela segunda Olimpíada consecutiva era algo impensável.

Mas aconteceu. Em uma campanha irregular, o Brasil ficou apenas em quarto lugar entre sete participantes, com quatro vitórias e duas derrotas. Ficaram com as vagas Porto Rico, Canadá e Argentina. Como as três aderiram ao boicote, foram substituídas pela equipe brasileira e Cuba, que terminou em sexto no Pré-Olímpico.

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Cenas da partida entre Brasil e União Soviética na Olimpíada de Moscou

A terceira vaga foi remanejada para a Europa, que se beneficiou ainda da ausência dos Estados Unidos, classificados por serem então os atuais campeões olímpicos. Suécia e Polônia levaram as vagas extras, ao lado de Itália, Tchecoslováquia e Espanha, classificados anteriormente.

Brasil x Iugoslávia pelo basquete masculino em Moscou-1980
Carioquinha (7) e Marcel tentam bloquear ataque da Iugoslávia (Foto: COI)

O Brasil soube aproveitar bem a segunda chance que os problemas da política internacional lhe derem. Com uma equipe comandada por Pedro Morilla Fuentes, o Pedroca, e Claudio Mortari, o Brasil fez uma belíssima campanha em Moscou.

O time era mesclado de veteranos como o armador Carioquinha e o pivô Marquinhos, mas teve pela primeira vez em Olimpíadas nomes como Oscar Schmidt, Marcel Souza e Cadu. Na primeira fase, perdeu apenas para a União Soviética, mas na fase final, derrotas diante da Espanha e Iugoslávia (por apenas um ponto, 96 a 95) deixaram o Brasil na quinta colocação.

Estreia feminina

O boicote à Olimpíada de Moscou também ajudou a marcar a estreia do vôlei feminino do Brasil na história dos Jogos. Embora já fizesse parte do programa olímpico desde a edição de Tóquio-1964, as mulheres brasileiras ainda não tinham conseguido fazer sua estreia. Já o masculino esteve presente em todos os torneios até então.

O funil mais estreito para o feminino (apenas oito seleções disputavam o torneio olímpico) dificultava ainda mais para as mulheres brasileiras. E tudo indicava que isso se repetiria em 1980. O Sul-Americano de 1979, disputado na Argentina, serviu de qualificatório olímpico. O Peru, grande força do vôlei feminino no continente, confirmou o favoritismo e levou a única vaga em disputa.

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Pelo boicote, Japão, Estados Unidos e China não foram a Moscou. Em seus lugares, foram chamadas Bulgária, Hungria e finalmente o Brasil. Sem experiência internacional, a seleção brasileira foi apenas figurante na Olimpíada, mas sem dar vexames e fazendo jogos equilibrados na primeira fase.

Comandado pelo técnico Ênio Figueiredo e tendo em quadra nomes que fariam história no vôlei feminino, como Jaqueline, Isabel, Ivonete e Vera Mossa (então com apenas 15 anos), o Brasil ganhou apenas uma partida, diante da Romênia, terminando em 7º lugar. Foi o início de uma bela história que já conta com duas medalhas de ouro em Olimpíadas.

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