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Judô

O dia em que o Judô se chamou Abe

Irmãos japoneses levam o título mundial nas categorias até 66 e 52 quilos, utilizando com perfeição a mesma técnica para projetarem com rara perfeição seus adversários nas respectivas decisões

Foto: IJF

Se o Judô tivesse outro nome seria Jigoro Kano, seu idealizador, criador e eterno mestre supremo. Mas no final da tarde desta sexta-feira, 21 de setembro, desconfio que ele ficaria feliz chamar a sua obra, nem que apenas por um dia, de Abe.

Foi nesta data, em Baku, capital do Azerbaijão, que os irmãos Hifumi Abe e Uta Abe, japoneses como Kano, sagraram-se campeões mundiais respectivamente nas categorias até 66 quilos, no masculino, e até 52 quilos, no feminino. E os dois utilizaram exatamente a mesma técnica, o uchi-mata, ambas com rara perfeição.

Uta, com apenas 18 anos, ganhou primeiro. Derrotou na decisão nada menos do que Ai Shishime, campeã mundial até então. Shishime acabou projetada aos 53 segundos do Golden Score, depois de quatro intensos minutos do tempo normal sem pontuação, apesar do alto nível da luta. E foi em grande estilo, Abe aplicou um uchi-mata, sua técnica favorita, levantando também todo o ginásio e junto com ele a mão do árbitro da luta, indicação do ippon, o golpe perfeito que valeu o ouro. Foi a 29 vitória seguida de Abe.

Alguns minutos depois, Hifumi Abe, 21 anos, fez o mesmo com o judoca do Cazaquistão Yerlan Seriakhanov, que surpreendeu ao chegar a final já que ocupava antes do torneio apenas a 36ª colocação no ranking mundial. A vitória veio também via uchi-mata, mas mais cedo, faltando 2min47 para o fim da luta. Abe não deu a menor chance para o azarão, jogando-o para todo o lado antes de acertar o golpe perfeito que valeu o bicampeonato mundial.

link para a luta completa. A ação da técnica da vitória começa no 2min00s:

Uta Abe – A ação da técnica da vitória começa no 6min55s

“(Vencer ao lado de meu irmão) era um dos meus objetivos. Era um de nossos (dela e do irmão) objetivos ganhar o torneio juntos e conseguir isso foi uma grande honra para mim”, disse Uta em entrevista ao lado de Hifumi, com quem trocou brincadeiras típicas de irmãos. Hifumi também ressaltou que “assistir a vitória da minha irmã foi um incentivo para mim e consegui levar essa energia para minha luta”.

Encerrado o dia de lutas, o segundo do campeonato, os Abe vão celebrar em família e colher histórias que serão sempre lembradas nos almoços de domingo. E o judô volta a chamar Jigoro Kano que, do alto de sua cadeira na Kodokan, certamente está orgulhoso de seus discípulos. Afinal, de certa forma, ele é o grande Senpai desta família.

Escrito por André Rossi

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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