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Caos financeiro é o ‘legado olímpico negativo’ do esporte brasileiro

Suspensão de repasse de verbas da Lei Agnelo/Piva para oito confederações amplia o cenário de incerteza do movimento olímpico do país

Parque Olímpico Rio-2016

Visão aérea do Parque Olímpico Rio-2016, cujo legado ainda é uma incógnita (Crédito: Ricardo Sette)

É incrível como as definições de crise no esporte olímpico brasileiro são atualizadas constantemente. Não falo aqui de resultados esportivos, nos quais muitos de nossos atletas vem se mantendo entre os melhores do mundo em várias modalidades. São nos gabinetes dos cartolas que a coisa fica feia. O badalado “legado olímpico”, ao menos para o Brasil, é uma falácia.

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A última cacetada veio por meio do TCU (Tribunal de Contas da União).  O órgão determinou que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) suspensa o repasse de recursos da Lei Agnelo/Piva para oito confederações olímpicas. O motivo é que todas as entidades inscritas no Cadastro de Entidades Privadas Sem Fins Lucrativos Impedidas (Cepim), não recebem repasses dos recursos da lei das loterias.

Estão nesta situação as confederações de basquete (CBB), badminton(CBBd), canoagem (CBCa), handebol (CBHb), desportos aquáticos (CBDA), tiro esportivo (CBTE), taekwondo (CBTKD) e triatlo (CBTri). Também entrou na lista uma entidade do esporte paralímpico, do basquete em cadeira de rodas (CBBC).

As informações foram publicadas pelo blog “Olhar Olímpico”, do UOL, e pelo Globoesporte.com.

Pior que até o próprio COB está no no meio deste furacão legal. O comitê é cobrado por uma dívida com a Receita Federal de R$ 191 milhões e com isso não conseguiria renovar sua CND (Certidão Negativa de Débitos). Sem ela, também não recebe os repasses da Lei Agnelo/Piva.

Por tabela, nenhuma entidade no esporte olímpico do Brasil recebe.

O triste, em tudo isso, é que ninguém que tenha acompanhado o movimento olímpico nos últimos anos com um pouco de atenção pode dizer que está surpreso.

Entidades mal acostumadas

Ao menos entre os principais dirigentes e políticos, sempre se vendeu a imagem de que a Rio-2016 traria um legado olímpico inestimável ao esporte olímpico brasileiro. Passaríamos a ser uma verdadeira nação esportiva.

O ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, chegou a bater no peito e dizer que a Olimpíada carioca deixaria no chinelo os Jogos de Barcelona-1992.

Lamento dizer mas o único legado de fato que ficou foi um cenário de terra arrasada.

A “joia da coroa”, o Parque Olímpico da Barra, ainda busca caminhos para efetivamente tornar-se viável, mas instalações abandonadas ou sub-utilizadas, como mostrou o Globoesporte.com nesta quinta-feira, nos joga na cara uma realidade que muitos insistem não ver.

Todas as confederações perderam patrocínios ou viram seus apoiadores reduzirem drasticamente os valores de seus contratos. Por culpa exclusiva de seus dirigentes. Preguiçosamente, acostumaram-se com a torneira aberta do governo federal, despejando milhões de patrocínios estatais em suas entidades.

Antes mesmo de Jair Bolsonaro assumir a presidência, as torneiras foram se fechando aos poucos. Agora, nem Ministério do Esporte existe mais (rebaixado à condição de Secretaria Especial do Esporte, vinculado ao Ministério da Cidadania).

Infelizmente. este cenário atual é muito também consequência da longa dinastia de 22 anos de Carlos Arthur Nuzman à frente do COB, quando a maior preocupação foi buscar eventos para organizar do que em estruturar o esporte nacional para os próximos anos.

Agora, sob o comando de Paulo Wanderley, a entidade tenta entrar nos trilhos, com menos dinheiro em caixa, porém mostrando-se mais alinhada com as práticas da boa governança.

Problema é que este raio de “legado olímpico” negativo parece que está longe de terminar.

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