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Ídolos

Uma homenagem à brava turma do “amador”

O jornalismo esportivo no Brasil deixou há um bom tempo de ter como único foco o futebol. E boa parte se deve à chamada “Geração de Prata” do vôlei

Amauri, Montanaro e William, três dos integrantes da "Geração de Prata" dos Jogos de Los Angeles 1984 (Crédito: Marcelo Laguna)

Amauri, Montanaro e William, três dos integrantes da “Geração de Prata” dos Jogos de Los Angeles 1984 (Crédito: Marcelo Laguna)

Na última quarta-feira, participava da gravação para uma reportagem da edição especial digital da revista Veja sobre os Jogos do Rio 2016, conversando com alguns dos integrantes da chamada “geração de prata” do vôlei. No Ginásio Baetão, em São Bernardo do Campo (SP), entrevistava Amauri, Montanaro e William, três integrantes da grande seleção brasileira masculina, que ficou com o vice-campeonato olímpico dos Jogos de Los Angeles 1984, quando foi derrotada pelo excelente time dos EUA na final.

Até que já no final da gravação, naquele momento em que entrevistador e entrevistados falam sobre amenidades, apenas para registro de imagens que facilitem na hora da edição, Montanaro – atualmente trabalhando como coordenador de esportes do Sesi Santo André – pediu a palavra: “Acho que muita gente contribuiu para o nosso sucesso, inclusive pessoas da imprensa, que estavam sempre acompanhando nossos treinos e jogos, como a Denise Mirás, o João Pedro Nunes, o Sperândio… vários jornalistas que nos acompanharam nestes primeiros tempos e ajudaram a divulgar os feitos do vôlei”, disse o ex-jogador, com a aprovação de William e Amauri.

Confesso ter ficado surpreso e também feliz com as palavras de Montanaro. Não é muito comum jornalista receber reconhecimento de entrevistados assim, de forma espontânea. Porém, para mim o que fica de mais importante naquelas palavras é a homenagem ao pessoal da velha guarda do chamado jornalismo olímpico, como atualmente é chamado no jargão das redações, mas que em meados dos anos 80 era apelidado de “esporte amador”.

Jogadores do Brasil não tiveram chance diante dos EUA na final do vôlei em 1984 (Crédito: Reprodução)

Jogadores do Brasil não tiveram chance diante dos EUA na final do vôlei em 1984 (Crédito: Reprodução)

Antigamente, no tempo em que as redações dos jornais eram infinitamente maiores do que hoje, as editorias de esporte tinham uma divisão bem definida: havia de um lado os repórteres que cobriam os clubes de futebol (os chamados setoristas), uns outros poucos dedicados à cobertura do turfe e por fim, uma parcela igualmente pequena, que tinha como missão acompanhar todos os outros esportes: basquete, vôlei, atletismo, natação, ou seja, tudo o que fugisse do principal foco de interesse das publicações, o futebol.

Comecei na profissão exatamente na época em que se iniciava uma mudança de rumo neste viés da cobertura esportiva no Brasil, coincidentemente logo após a conquista desta medalha de prata do vôlei masculino nos Jogos de Los Angeles. A seleção brasileira virou uma febre no país, em um período de baixa do futebol, ainda curtindo a ressaca da eliminação dolorida para a Itália na Copa do Mundo de 82.

>>> E mais: A noite de prata do Brasil nas Olimpíadas de Los Angeles

E não era só o vôlei que encantava. Na mesma época, Ricardo Prado tinha sido campeão e recordista mundial de natação, além de ter ficado com a prata nos Jogos de Los Angeles, enquanto Joaquim Cruz levou o ouro nos 800 m do atletismo, também em 1984, de uma forma emocionante. Ainda na mesma edição olímpica de Los Angeles, Douglas Vieira faturou uma inédita prata no judô. No basquete, astros como Oscar, Marcel, Israel, Paula, Hortência e Janeth ajudavam a formar uma nova geração de torcedores, cujos olhos estavam se acostumando a ver novos ídolos que não somente os do futebol.

Não tínhamos internet, nem canais esportivos por assinatura como existem hoje em fartura. E se na TV aberta o inesquecível Luciano do Valle teve um papel fundamental para a popularização tanto do vôlei (ele chegou a ser chamado de “Luciano do Vôlei”.) como de outras modalidades, na época em que foi para a Bandeirantes e criou o “Show do Esporte”, o jornalismo impresso também teve os seus desbravadores.

Por isso a minha alegria ao ouvir as palavras de Montanaro, homenageando amigos e companheiros que tiveram um papel tão relevante para uma mudança no comportamento do jornalismo esportivo brasileiro. Claro que o futebol ainda é (e acredito que será) o principal foco de interesse de leitores, internautas, ouvintes e telespectadores brasileiros. Mas foi graças a esta turma que brigava por espaço nas edições – “um abre e uma retranca”, como se diz nos jargões das redações -, é que hoje foi formada uma geração tão competente e especializada de repórteres em modalidades olímpicas.

Minha homenagem a aqueles com quem pude aprender muito e dividir momentos inesquecíveis em coberturas de treino, campeonatos, pan-americanos e olimpíadas. Um forte abraço ao João Pedro Nunes, Denise Mirás, Benê Turco, Edgard Alves, Heleni Felippe, Ricardo Fonseca, Milton Alves, Luís Augusto Simon, Moacir Cyro Martins Júnior, Nicolau Radamés, Cida Santos, José Nilton Dalcin, Geraldo Silveira, Juarez Araújo, Débora Mamone, Chiquinho Leite Moreira, Castilho de Andrade, Cida Silveira, Luiz Carlos Vieira da Costa, Jorge Luiz Rodrigues, Isabela Scalabrini, Betise Assumpção, Kitty Balieiro, Roberto Salim, Helvído Mattos, Lia Benthien, Sérgio Branco, Roberto Pereira de Souza, Wagner Gonzalez, Gilson Ribeiro, Mariúcha Moneró, Ester Lima, Alberto Ludwig, Isabel Tanese, Odair Pimentel, Eduardo Holanda, Ouhydes Fonseca, Vicente Dattoli, Luiz Carlos Sperândio, Lola Nicolás e tantos outros para os quais peço perdão pelo esquecimento, mas sintam-se todos abraçados.

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