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Ginástica Artística

O foco e a persistência do campeão mundial Arthur Nory

“É o amor pelo esporte. É o amor pela ginástica”, conta Arthur Nory sobre a conquista do ouro na barra fixa do Campeonato Mundial de Ginástica Artística

Ricardo Bufolin / CBG

“Não caiu a ficha.” “É a realização de um sonho.” “É o amor pelo esporte. O amor pela Ginástica.” Arthur Nory conquistou o ouro na barra fixa no Campeonato Mundial de Ginástica Artística, que foi realizado na Alemanha, no último domingo (13). Mas a medalha está nos planos há muito tempo e faz parte de um trabalho de foco e persistência de anos de carreira.

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“Ainda não me caiu a ficha. A ficha não cai. Eu estou muito feliz. Porque eu também sinto a felicidade de todo mundo, que estava ali torcendo, que me ajudou a chegar ali. Minha equipe, que gritou muito ali pra mim e estava comigo. Então não dá pra explicar essa emoção,” contou Nory em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo Dia.

As imagens emocionam. Seja a da alegria de Nory durante o fim da série, da comemoração com o treinador após o anúncio do ouro (vídeo acima), o hino nacional ou os companheiros vibrando na arquibancada.

“Foi a realização de um sonho. Eu sempre sonhei com esse momento. Em poder estar ouvindo o hino nacional. E eu me emocionei muito ali no pódio porque eu escutava e decorava esse hino nacional para um dia eu ouvir no pódio. Então foi muito especial”.

A cabeça quem manda

Arthur Nory sabe que o ouro do Mundial é só a coroação de anos de trabalho. E, acima disso, de muita preparação mental. O físico responde ao que manda a cabeça. Não faltam formas de se concentrar quando o assunto é o objetivo: post-its pela casa, treino, visualização, frieza e segurança.

“Treinei e visualizei muito. Muito. Muito. A semana inteira eu passei visualizando esse momento e até no pós, no que falar nas entrevistas, então eu já estava mentalizando muito pra viver aquilo e fazer a minha série, fazer o que eu treinei bastante. O ano inteiro. Não tem emoção pra descrever o que é isso”,

falou Arthur Nory e logo respirou rindo, ainda entendendo o que aconteceu.

Ele sabe que não trilhou o caminho sozinho. Arthur Nory tem ao seu lado uma grande equipe multidisciplinar e faz um trabalho especializado: “É muito importante estar com a cabeça boa para chegar lá no momento e fazer uma série. A gente fica depois do aquecimento um bom tempo para entrar lá na competição, tem que manter bem o corpo aquecido e eu treinei muito. Eu conversei bastante, tenho um trabalho com acompanhamento psicológico da Carla Ide, do Pinheiros, já há algum tempo, então a gente vem trabalhando algumas estratégias para concentração, para mentalizar bem. Visualizar com uma riqueza de detalhes. A Carla e o Coach Ruan também, que me ajudaram a ter essa visualização, mas a Carla desde pequeno me ajudou nisso.”

Os post-its de Arthur Nory pela casa – foto: Reprodução / Instagram

Arthur Nory visualizou a conquista antes. Desenhou o pódio na parede, se preparou para o espetáculo e, no final, foi surpreendido: “Eu acho que a cabeça tem que estar muito boa na competição, porque o físico a gente vai treinando um ano inteiro para aquele momento. Então em um competição é a cabeça quem manda ali. É a cabeça que tem que estar bem. Tem que estar frio. Seguro. Ver a competição e numa final… É uma final… Vamos pra cima. Vamos brigar, vamos lutar até o último. E fazer um show. Dar um show. Então eu estava bem. Bem ali. Conversei bastante com o meu treinador, o Cris, que também estava nervoso. Eu percebi que ele estava nervoso um pouco, mas é normal esse frio na barriga pra deixar a gente atento e deu tudo certo. Foi melhor ainda do que eu visualizei.”

A emoção de Arthur Nory no pódio do Mundial – foto: Ricardo Bufolin / CBG

Estratégia e a prova do ouro

O brasileiro campeão mundial conhece bem como funcionam as competições. Nory já participou de seis mundiais e tinha o quarto lugar na barra fixa de 2015 entalado na garganta. Em 2019, no entanto, fez uma excelente prova tanto na classificatória, quanto na final.

“(A estratégia) foi executar a mais limpo possível. Eu estava treinando uma série mais difícil. E estava numa ordem boa. Alguns ginastas na minha frente não fizeram uma boa série.”

Literalmente voando, Arthur Nory na série da barra fixa do Mundial – foto: Ricardo Bufolin / CBG

Depois da execução, Arthur vibrou muito e ainda precisou esperar três competidores para saber que ficaria no lugar mais alto do pódio: “Eu não queria sair do banquinho. Meu treinador ficou muito feliz. Eu já sentia que viria um bom resultado.”

A importância do físico

A Ginástica Artística desgasta. Arthur Nory já passou por 7 cirurgias ao todo durante a carreira. Após a Rio 2016, enfrentou um grande período de recuperação. No próprio Mundial, agora na Alemanha, o atleta não competiu nas argolas e não disputou o individual geral para prevenir o ombro. Pensando no caminho até a próxima Olimpíada, Nory sabe o que é preciso.

“Agora, é trabalhar, trabalhar, trabalhar. E treinar mais. Mais focado. Estar saudável. Recuperar bastante as lesões, se previnir aí e estar saudável para poder competir ano que vem.”

Futuro já mirando Tóquio 2020

Arthur Nory é campeão mundial na barra fixa
A alegria de Arthur Nory após a série na barra fixa – Foto: Ricardo Bufolin/CBG

Arthur Nory já tem quase todas as conquistas no currículo. Campeão mundial, campeão dos Jogos Pan-Americanos e medalhista olímpico. O combustível é um só: “É o amor pelo esporte. É o amor pela ginástica. Esse tesão que eu tenho em competir, em treinar, e poder representar o Brasil mundo a fora.” E o que falta pra completar? Não há outra resposta: “Ouro Olímpico, rs. Falta essa (medalha).”

O CAMINHO ATÉ O TÍTULO!

Todas as participações de Arthur Nory no Campeonato Mundial:

  • 2013 Bélgica – 17º individual geral
  • 2014 China – 6º por equipes, 21º individual geral
  • 2015 Grã-Bretanha – 8º por equipes, 12º individual geral, 4º barra fixa
  • 2017 Canadá – nenhuma final
  • 2018 Quatar – 7º por equipes
  • 2019 Alemanha – 1º na barra fixa

OS BRASILEIROS DONOS DO MUNDO!

A lista das conquistas do Brasil no Campeonato Mundial de Ginástica Artística:

  • Arthur Nory (ouro em 2019)
  • Arthur Zanetti (ouro em 2013 e prata em 2011, 2014 e 2018)
  • Daiane dos Santos (ouro em 2003)
  • Daniele Hipólito (prata em 2001)
  • Diego Hipólito (ouro em 2005 e 2007, prata em 2006 e bronze em 2011 e 2014)
  • Jade Barbosa (bronze em 2007 e 2010)

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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