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“História viva” do futebol feminino santista mira centésimo gol

Ketlen Wiggers é a artilheira máxima do futebol feminino no Santos com 96 gols, 40 a mais que a segunda colocada

Ketlen Wiggers do Santos no futebol feminino
(Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)

O Santos de Pelé, multicampeão dos anos 1960, conquistou o coração de muitos torcedores espalhados pelo Brasil. “Não conheci minha avó, mas minha mãe contava histórias de que ela era santista, escutava aos jogos pelo rádio”, conta Ketlen Wiggers, 28 anos, natural da pequena Rio Fortuna, cidade do interior de Santa Catarina com pouco menos de 5 mil habitantes, e um dos grandes nomes do Santos no futebol feminino.

Se viva estivesse, a avó de Ketlen Wiggers teria outro motivo para o coração ser arrebatado pelo Santos. Quis o destino que a neta se tornasse um dos nomes mais emblemáticos do futebol feminino santista. Entre os clubes mais tradicionais do país, o Peixe é um dos pioneiros da modalidade (desde 1997) e mais vitoriosos, com quatro títulos paulistas, um Brasileiro e dois da Libertadores.

A catarinense faz parte dessa trajetória desde 2007, quando desembarcou no litoral paulista com apenas 15 anos. De lá para cá, só não vestiu a camisa branca entre 2011 e 2015, período em que o time esteve desativado.

“Minha mãe viu uma reportagem sobre a peneira (do Santos), entrou em contato e vim”, lembra a atacante. “Digo que vivi três fases no Santos. Essa primeira de quando cheguei, ainda aprendendo, crescendo com as meninas. Era tudo novo. A segunda, quando retornei ao Santos. Foi um momento gostoso, gratificante. E a última já mais amadurecida, cabeça formada e passando o que aprendi às meninas de hoje”, completa.

Em um clube que se orgulha do DNA ofensivo, independente do gênero, Ketlen Wiggers supera até as duas maiores goleadoras do futebol feminino nacional — Marta e Cristiane, com quem foi campeã da primeira Libertadores feminina da história, em 2009. A jogadora do Santos é a artilheira máxima da modalidade no Santos com 96 gols, 40 a mais que a segunda colocada (a lateral e meia Maurine). O último deles foi marcado na goleada por 4 a 0 sobre o Flamengo, sábado passado (8), pela rodada de abertura do Campeonato Brasileiro. Com ao menos outras 14 rodadas do torneio pela frente, além do Paulistão, a marca centenária está encaminhada ainda para este ano.

“Representa muito (poder chegar a 100 gols). Sempre me inspirei em outras jogadoras, desde que cheguei. Tinha a Érika (hoje zagueira do Corinthians, foi centroavante no Santos), a própria Cristiane, a Pikena… E estar à frente delas (na estatística) é muito gratificante. Gostaria muito de chegar nessa marca e entrar na história do Santos”, afirma a atleta, que estará em campo nesta quinta-feira (13), às 21h (de Brasília), diante do Iranduba, pela segunda rodada do Brasileirão.

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Realização e reflexão

Ao contrário da maioria das meninas que enfrenta ou já enfrentou em campo, Ketlen Wiggers não encontrou resistência para dar os primeiros chutes. “Na minha cidade, o futebol feminino era bem valorizado. Minhas amigas e até a minha mãe jogavam. Aprendi muito e comecei a amar o futebol por meio delas e da família”, recorda.

A chegada ao Santos, em 2007, coincide com o primeiro jogo das Sereias na Vila Belmiro (derrota por 2 a 1 para o Botucatu, pela Copa do Brasil). Além do Peixe, somente Internacional e Vasco (considerando equipes que, hoje, estão na Série A do Brasileirão masculino) estiveram representados naquela que, à época, era a maior competição de futebol feminino do país. Cenário diferente do atual, em que o campeonato nacional é disputado em duas divisões e reúne todas as principais camisas de peso do Brasil.

“Foi muito bom presenciar esse crescimento (do futebol feminino). Em 2009, a gente teve uma fase muito boa no Santos, com mídia forte, em cima. Foi ali que vi o quanto a modalidade poderia crescer. Se pudesse (falar com a Ketlen de 15 anos), diria para não desistir, que o futebol feminino seria visto com outros olhos”, diz. “Sou muito realizada pelo que conquistei aqui no Santos, ter chegado à Seleção (pela qual foi medalhista de prata nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, no México, em 2011). Sempre tive amor pelo clube”, emenda.

Realização que levou Ketlen Wiggers a refletir sobre a sequência na modalidade no início do ano passado — tanto que só acertou novo contrato com o Santos em abril, quatro meses após a reapresentação do grupo. “Eu precisava de um tempo para por a cabeça no lugar e ver se tinha chegado ao fim da carreira. Conversei com a família e decidimos que retomaria por mais um tempo. Não sei dizer quanto, mas tenho outros sonhos também. Construir uma família, casar”, conta.

À espera do “momento certo” para “seguir o coração”, a catarinense continuará vestindo a camisa cuja história ajudou a construir. E — por que não? — fazer a alegria da avó. “Tenho certeza que ela está vendo lá do céu e tendo orgulho de mim”.

* Lincoln Chaves – Repórter da TV Brasil e da Rádio Nacional. 

Jornalista com mais de 20 anos de profissão, mais da metade deles na área de esportes. Está no OTD desde 2019 e, por ele, já cobriu 'in loco' os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio, além dos Jogos Pan-Americanos de Lima e Santiago

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