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Iranduba: a história por trás do fenômeno do futebol feminino

Não da para negar que o Iranduba da Amazônia é o time sensação do Campeonato Brasileiro de 2017. Além de ter sido responsável por tornar Manaus a capital do futebol feminino no país, o time ainda colocou a modalidade na capa de jornais estrangeiros batendo recordes de público com 25.371 pessoas na Arena da Amazônia. Se engana quem pensa que isso tudo é novidade pra quem acompanha o time há mais tempo.

Recorde de público na partida de ida da semi do Brasileiro Feminino entre Iranduba e Santos – Foto: Bruno Kelly/AllSports

Criado em 2011, com seis anos de existência, disputou as seis edições do campeonato amazonense e venceu todas, três vezes de forma invicta. Já chegou a colocar mais de 17.000 pessoas no estádio para uma partida do sub-20, diante do Adeco. O Hulk da Amazônia, como é conhecido popularmente, está alçando voos cada vez maiores, até pioneiros e busca neste sábado contra o Santos, às 21h, na Vila Belmiro, com transmissão do SporTV e entrada franca, a classificação para a final do campeonato nacional.

A missão é difícil. Depois de ter eliminado o tradicional Flamengo, com 15 mil pessoas presentes, nas quartas de final, na primeira partida as Sereias da Vila acabaram na frente por 2 a 1. Mesmo assim, a confiança permanece grande. “Em nenhum momento perdemos a esperança, sabemos que faltam 90 minutos para concretizar o resultado final e dentro desses 90 minutos esperamos reverter a situação”,  pontuou Amarildo Dutra, presidente do Iranduba da Amazônia, em entrevista exclusiva ao Olimpíada Todo dia. “Pela primeira vez, inclusive, tivemos torcida na hora do embarque, isso foi gratificante, foi mais um ponto positivo e motivador para que a gente consiga sair com a classificação de Santos”, conclui.

Hoje, o Hulk está instalado em Manaus, mas nem sempre foi assim. Iranduba é o nome de um município próximo a capital, algo em torno de 24 quilômetros. Na época da sua criação, era necessário se locomover até lá de barco, já que a ponte não havia sido construída. É verdade que a cidade cresceu, a ligação já existe, mas mesmo assim Iranduba passou a ser pequena para o tamanho que o time está alcançando.

“O Iranduba quando iniciou as atividades nós tivemos bastante dificuldades, foi muito árduo, basicamente três pessoas estavam a frente (eu, o Olavo, o José Saad – que permanece conosco, preparador físico hoje e já foi treinador). (…) Vamos conceituar, os primeiros cinco anos do Iranduba passaram, conseguimos sobreviver e quando chegou em 2015 fizemos um planejamento diferente. Vamos fazer um novo projeto visando até 2020. Nosso objetivo é o Iranduba ser um dos cinco times top do Brasil, no futebol feminino”, relembra Amarildo.

Em um cenário ainda em evolução, o clube hoje tem parceria com um Centro de Treinamento, consegue manter suas atletas próximas aos locais dos jogos e também da faculdade em que estudam. Com uma folha salarial próxima a 60 mil reais, o Iranduba da Amazônia paga suas atletas com contrato não profissional, moradia, transporte, alimentação e todos os custos pagos pelo clube.

Porém, o Iranduba da Amazônia não se contenta com isso, pretende para esse mês alinhar um novo estatuto aos moldes da Lei Pelé e espera, muito em breve, com isso, passar a ter os direitos federativos das atletas e a possibilidade de negociar até recursos públicos. No Brasil, na atualidade, raros são os clubes do futebol feminino que se enquadram nessa metodologia, o Santos é modelo nessa questão e a semifinal promete trazer um encontro que muito pode render para a modalidade em termos de aprendizado mútuo (marketing X profissionalização) entre Amarildo Dutra e Modesto Roma Júnior.

Amarildo revela que: “Esse networking é importante em todos os aspectos para nós. Primeiro porque o Santos é um clube da elite do futebol masculino, até pela troca de conhecimento e informações. Tanto no marketing, tanto na parte burocrática que envolve a parte tributária, inclusive o nosso corpo jurídico vai estar presente lá, exatamente para que junto com a equipe do Santos troque informações. Ver o que pode ser melhorado no Iranduba. Isso aí para mim é algo de extrema importância.”

Acha que acabou? Não, não. O Iranduba da Amazônia vai além. Além de já ter registrado seus nomes, o time conta com um hino oficial cantado por uma mulher e produtos oficiais. Neste sábado, lançará seu site oficial e um aplicativo. Deve também começar seu próprio programa de sócio torcedor, fato inédito no Brasil. “Nós firmemente estamos trabalhando nesse projeto e temos como meta de curto prazo, no máximo, até final de setembro estar lançando”, afirma o presidente.

Todas essas conquistas não são à toa, fazem parte de um planejamento estratégico, com ações de marketing, boa estrutura técnica e uma equipe com jogadoras que estão até na Seleção Brasileira (principal ou de base). A mídia de resultado vai atrás do Iranduba, as jogadoras vendem ingresso e ganham comissão, ingressos são doados em escolas e muito se pensa em plantar para um torcedor futuro do futebol feminino no Brasil.

A frente da equipe e desse projeto, um presidente com 52 anos, contador, que mantém outro emprego, tirou férias para conseguir focar integralmente na fase final do Campeonato Brasileiro e já colocou dinheiro do próprio bolso na equipe. “Além do orgulho eu sempre penso o seguinte. Toda boa ação com objetivos comuns e que isso venha fortalecer o futebol feminino, essa é a nossa bandeira, ela é válida. Ela é válida, ela é importante, até porque se da certo em um lugar, outro pode copiar ou então ajustar para que dentro de cada cidade tenha as adversidades, que o que serve para mim pode não servir para você, mas serve para complementar e difundir mais ainda o nosso futebol”, sonha Amarildo.

Equipe do Iranduba na Arena da Amazônia – Foto: Reprodução Instagram

Ainda está longe. É possível que a estrada do futebol feminino seja ainda muito dura, cheio de contratempos e mudanças, mas parece que esse é o caminho para a difusão da modalidade, mesmo com o enorme abismo existente. Um novo formato de campeonato brasileiro, a seleção sob o comando de Emily e exemplos como o do Iranduba da Amazônia reforçam o sonho de tornar, também, o Brasil o país do futebol feminino.

Jornalista formada pela Cásper Líbero. Apaixonada por esportes e boas histórias.

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