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Crônicas Olímpicas

Síndrome de Mick Jagger

Tenho um grande segredo para confessar: sou o maior pé frio do Brasil, quiçá do mundo. Se hoje a bandeira verde e amarela não aparece entre as melhores do mundo nos esportes olímpicos a culpa é minha. Tenho a plena consciência de que não treino, não entro em campo e não suo a camisa na busca por medalhas, mas quando algo dá errado, acredito que tenho uma parcela de culpa.

Tenho a certeza de que a síndrome de Mick Jagger é hereditária. Meu pai, por exemplo, é botafoguense. Fato que não precisa de muitas explicações, né? Lembro de um fato curioso que aconteceu em 1995. Decepcionado com o time, ele fez uma promessa: não assistiria aos jogos do alvinegro naquele ano. Não deu outra. O Glorioso quebrou o jejum de 27 anos e conquistou o título do Campeonato Brasileiro. Foram 14 vitórias, nove empates e quatro derrotas. E não foi só. O atacante Túlio Maravilha encerrou a temporada como artilheiro, com 23 gols. É um jugo hereditário que tenho que carregar pelo resto da minha vida.

Desculpa, Bernardinho. Eu estava no ginásio do Earls Court Exhibition Centre na final do vôlei masculino nos Jogos Olímpicos de Londres, entre Brasil e Rússia, em 2012. Aquele dia 12 de agosto era o meu dia de folga na cobertura olímpica. Um amigo tinha um ingresso sobrando para a final e me chamou para torcer para os brasileiros. Eu estava do outro lado da cidade, saí correndo com medo de perder a partida e desci na estação errada de West Kensington. Cheguei no ginásio esbaforido, no final do segundo set.

Até aquele momento, o Brasil estava com as duas mãos na medalha de ouro ao vencer o primeiro e o segundo sets, por 25 a 19 e 25 a 20, respectivamente. Depois que me sentei, as coisas mudaram. Os russos arrancaram um empate heroico, forçaram um tie-break e conquistaram o título olímpico em uma virada impossível, vencendo por 3 a 2 (19/25, 20/25, 29/27, 25/22 e 15/9). A seleção de Bernardinho ficou com a prata. Quatro anos depois, nem arrisquei. Fiquei bem longe do Maracanãzinho e nem liguei a televisão. Resultado? O vôlei masculino faturou o ouro.

Desculpa, Rodrigo Pessoa. Eu era um adolescente doido por esportes olímpicos. Nunca tinha assistido uma prova de hipismo na minha vida. Fiz questão de ver a sua, pela televisão, durante os Jogos Olímpicos de Sydney 2000. Não deu outra, o seu cavalo Baloubet du Rouet refugou três vezes e você ficou de fora do pódio.

Desculpa, Fabiana Murer. Eu não roubei a sua vara em Pequim, na China. É bom deixar isso bem claro. Porém, eu estava no Estádio do Ninho do Pássaro. Você teve uma carreira brilhante, mas nunca teve sorte em Jogos Olímpicos, mesmo chegando como favorita nas três vezes que disputou os Jogos. Se em Pequim a culpa ficou com as varas que sumiu, em Londres foi o vento e no Rio foi a recuperação de uma lesão. Nunca vi uma prova sua em Campeonatos Mundiais, quando você medalhou quatro vezes. Hoje, me arrepende amargamente de ter assistido as suas três participações olímpicas.

Desculpa, Sarah Menezes. Desculpa, Erika Miranda. Desculpa, Yane Marques. Desculpa, Larissa e Talita. Desculpa, Roberto Scheidt. Acompanhei as provas de vocês nos Jogos Rio 2016. Vocês treinaram, se esforçaram, deram ao máximo na busca pela medalha. Vocês só não contaram com a minha presença nas arquibancadas.

Breno Barros, 33 anos, gosta de olhar os diferentes esportes olímpicos de forma leve. Participei da cobertura dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio 2016, dos Jogos Olímpicos da Juventude de Argentina 2018 e da China 2014, dos Jogos Olímpicos de Londres 2012, dos Jogos Pan-Americanos de Lima 2019, de Toronto 2015 e de Guadalajara 2011. Estive também nas coberturas dos Jogos Sul-Americanos da Bolívia 2018 e do Chile 2014.

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