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Basquete

Como o coronavírus afetou estrangeiros que atuam no Brasil

O Olimpíada Todo Dia falou com cinco estrangeiros que atuam no Brasil para entender como eles estão enfrentando a pandemia do Covid-19 a muitos quilômetros de distância da família

Virgil Lopez, Dobriana Rabadzhieva, Ariadna Felipe e Gordon Perrin estão enfrentando o coronavírus a distância. (Crédito: montagem através de fotos do Instagram)

A pandemia do coronavírus vem afetando o mundo e já provocou mudanças na rotina de todos, incluindo os atletas de modalidades olímpicas. Nesta quarta-feira (18), mostramos como os brasileiros que atuam na Europa estão lidando com a quarentena e como está a situação nos países em que vivem.

Hoje, mostraremos o “lado oposto”. Como os estrangeiros que aqui residem e atuam estão encarando essa nova realidade mundial, a muitos quilômetros distantes de suas famílias, e como está a situação em seus países de origem.

O Olimpíada Todo Dia falou ao todo com quatro atletas estrangeiros e mais um técnico. Dentre eles, a ponteira búlgara do Itambé/Minas Dobriana Rabadzhieva, o técnico francês do time de basquete do Sampaio Corrêa e assistente da Seleção Feminina Virgil Lopez, o ponteiro canadense do Sada/Cruzeiro Gordon Perrin, ala norte-americano da Liga Sorocabana de basquete Eric Laster e a ala/armadora cubana do Santo André Ariadna Felipe.

Tenho familiares no grupo de risco. Minha preocupação é enorme

Dentre os países dos cinco entrevistados, o que enfrenta maior dificuldade é a França, do técnico Virgil Lopez. De acordo com um mapeamento em tempo real do coronavírus ao redor do mundo, o país registra 10.995 contágios e 372 mortos. Em quarentena, os cidadãos franceses só podem deixar suas casas para trabalhar (desde que não tenham condições de fazê-lo à distância), fazer compras ou ir ao médico. A situação preocupa o técnico francês, residente no Brasil há 12 anos.

“Apesar de ter uma organização de saúde muito boa, a França está conhecendo uma crise hospitalar sem precedentes. Não tem máquinas de suficientes para ajudar todos os pacientes a respirar. Chegou no momento que os médicos tem de fazer ‘escolhas para quem pode ser curado’. É horrível,” comentou Virgil.

Virgil Lopez aplica treino no Sampaio Corrêa antes da pausa do Coronavírus (Crédito: reprodução Instagram)

A mais de 7 mil quilômetros de distância de sua família, o treinador acompanha o noticiário e sente não estar perto da família nesse momento. Muitos dos familiares de Virgil pertencem ao chamado “grupo de risco”, aqueles que possuem mais chances de ter complicações decorrentes da Covid-19.

“Ficar distante dos meus familiares nesse momento aumenta a gravidade no meu inconsciente. Com tudo que se fala na televisão, você acaba pensando que vai acontecer com sua família. Tenho uma avó debilitada pela experiência de vida, uma mãe que passou por operação renal e minha irmã que está na população de risco por ter imunidade baixa. Minha preocupação é enorme. Estou há 12 anos no Brasil e não vejo minha família frequentemente. Agora várias coisas passam na minha cabeça,” comentou.

Virgil explica ainda que não pretende viajar para a França ou trazer algum familiar para o Brasil para evitar aeroportos, um dos locais onde o vírus tende a se propagar, e assim, não colocar seus familiares em risco.

“Estou com medo de viajar! Não quero levar o vírus para minha família

Assim como Virgil Lopez, a jogadora de vôlei búlgara Dobriana Rabadzhieva está assustada em pegar um avião de volta para o seu país. Após a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) decretar como cancelada a Superliga Feminina de 2019/20. a atleta do Minas está liberada para retornar a Bulgária, mas ainda não sabe se fará isso.

“Eu estou com muito medo de viajar! Estou muito longe de casa e não consigo imaginar levar o vírus para a minha família. É uma situação delicada porque ser egoísta nesse momento não é a escolha certa. Eu quero ir para casa, mas a saúde dos meus familiares é mais importante agora,” disse Dobriana, que tem que se contentar com ligações diárias para a Bulgária através das redes sociais para se acalmar.

Dobriana Rabadzhieva com o troféu do Sul-Americano. (Crédito: reprodução Instagram)

Comparado a outros países europeus, a Bulgária tem poucos casos de coronavírus (94 infectados com 3 mortes), mas também impôs restrições severas para impedir a propagação do vírus. De acordo com Dobriana, não está fácil entrar em seu país de origem.

“Muitos voos tem sido cancelados e há limitações na entrada de estrangeiros. Eu, como cidadã, posso entrar, mas ainda assim, terei que ficar 15 dias de quarentena,” explicou a atleta.

“Estava ansioso para jogar os playoffs. Agora tive que trocar meus treinos por empacotar malas”

A Superliga masculina de vôlei ainda não foi cancelada, mas tudo indica que terá o mesmo caminho da feminina. Se isso acontecer, o jogador do Sada/Cruzeiro Gordon Perrin também estará liberado para retornar ao Canadá. Ao contrário de Dobriana, ele pretende viajar, se houver disponibilidade de voos.

“É triste ter que sair. Eu estava ansioso para jogar os playoffs da Superliga, mas agora tive que trocar minha rotina de treinos por empacotar malas. Eu não pretendia ir ao Canadá agora, só daqui a um mês e meio. Ainda existem voos, porém poucos. As fronteiras só estão abertas para cidadãos canadenses e americanos,” contou. Perrin. O Canadá tem 690 casos confirmados com 9 mortes registradas.

Gordon Perrin atuando pela seleção canadense (Crédito: reprodução Instagram)

Além da preocupação com a família, Perrin diz que a barreira linguística é um dos fatores que ajudaram na decisão de voltar ao Canadá. O atleta acrescenta que pelas dificuldades com o idioma, não sabe se o Brasil vem fazendo um bom trabalho na contenção ao COVID-19.

“É difícil para mim dizer como o Brasil tem agido porque eu não consigo entender muito os noticiários em português. Acredito que as estatísticas dirão mais para frente… Espero que o governo faça o que é necessário para proteger os brasileiros, nós estamos vendo o que o coronavírus tem feito em países em outras partes do mundo.”

Quarentena: evitar contato e se adaptar ao coronavírus

Se na Europa a quarentena já está em prática a mais tempo, aqui no Brasil ela ainda é recente. A Confederação Brasileira de Basquete (CBB) suspendeu seus campeonatos na última quinta-feira (12) e os atletas estão liberados, Assim como outros jogadores, o americano Eric Laster e a cubana Ariadna Felipe passarão a quarentena em casa, evitando contato com terceiros, e treinando.

Eric Laster em ação pela Liga Sorocabana. (Crédito: arquivo pessoal)

“Eu tenho evitado o contato com o máximo de pessoas possível, mantendo sempre minhas mãos limpas, não saindo muito de casa,” declarou Laster. Especialistas de saúde vêm constantemente dizendo que essas medidas são as mais eficazes no combate a propagação do coronavírus.

Ariadna também ficará no Brasil, tentando agora se adaptar a essa nova situação. “Estou tentando adaptar a rotina de treinos, estudos e alimentação. Otimizar o tempo, fazendo o que eu faria fora no meu pequeno espaço de casa,” declarou a jogadora.

Ariadna Felipe jogando com a camisa do Santo André. (Crédito: Arquivo Pessoal)

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