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Mariana Pajón: da gravíssima lesão ao sonho do tri olímpico

Bicampeã olímpica do BMX e com mais de 15 títulos mundiais na carreira, a colombiana se prepara para voltar ao 100% e tentar o tricampeonato olímpico em 2020

Giovani Almeida / Ladeira Hill

1,58m de altura, com capacete e óculos de proteção, pronta para largar, só esperando o gate cair para começar a corrida. Ele cai, ela acelera e na primeira curva já não vê ninguém na sua frente. Ela cruza a linha de chegada e antes de chegar na dispersão dos atletas já se ouve os pedidos de foto. No último fim de semana, a cena descrita acima aconteceu inúmeras vezes com a colombiana Mariana Pajón em Americana, no interior de São Paulo.

A cidade paulista recebeu o Campeonato Pan-Americano e a Copa Latino-Americana de BMX, e recuperada da lesão grave no joelho, sofrida ainda em 2018, a bicampeã olímpica da Colômbia marcou presença e sagrou-se campeã dos dois torneios continentais.

“Os dois dias foram muito bons. No Campeonato Pan-Americano eu me senti muito bem, foi bom sentir essa sensação de confiança. A competição teve atletas muito bons, que tiveram boas voltas, somando mais experiência. É muito bom voltar a estar neste clima e obviamente voltar a ganhar”, comentou Mariana Pajón.

As competições realizadas no último fim de semana foram as primeiras conquistas internacionais da ciclista colombiana depois da sua lesão. Na etapa da Copa do Mundo de Papendal, na Holanda, no ano passado, Mariana Pajón se chocou com uma atleta e teve ruptura total do ligamento cruzado anterior, parcial do ligamento medial e acabou perdendo quase toda a cartilagem do joelho esquerdo.

O processo de recuperação da lesão foi lenta e deixou a ciclista colombiana fora de ação por quase 1 ano. Durante o período, além de se afastar das atividades do BMX, Pajón teve que praticamente reaprender a andar e sobravam dúvidas sobre como seria sua volta às pistas e sobre qual nível em que ele conseguiria voltar a competir. “Senti uma dor que nunca havia experimentado antes, senti-me bastante ansiosa e insegura”, comentou Pajón em entrevista ao jornal colombiano El Tiempo.

A recuperação, apesar de mais demorada do que o esperado, foi finalizada e Mariana Pajón voltou a competir em fevereiro deste ano. Na disputa do campeonato nacional, que leva o seu nome, a bicampeã olímpica conquistou o primeiro título depois de sua volta. Nas etapas da Copa do Mundo que participou em 2019, a colombiana acabou na quarta e 27ª colocação, em Manchester, e 25ª e 11ª, em Papendal, na Holanda.

Divulgação

As conquistas do último fim de semana foram as duas primeiras internacionais após a volta para as competições e, o fato delas terem acontecido no Brasil, fizeram com que Mariana Pajón relembrasse algumas conquistas que teve durante a carreira e assumisse que competir em solo brasileiro é diferente para ela.

“Aqui no Brasil, eu me sinto muito feliz. Me recordo de competições que participei desde pequena, como campeonatos Mundiais, Copas Latino-Americanas, Pan-Americanos e os Jogos Olímpicos de 2016. Representar meu país é sempre muito bom, sempre sei que existem coisas para melhorar, mas eu fico muito feliz quando estou aqui”, falou Pajón.

Começo no esporte

O ano era 1995 e de tanto ver seu irmão mais velho, Miguel Pajón, competir e treinar o BMX, Mariana disse que queria seguir os passos dele. Para isso, era preciso primeiro aprender a andar de bicicleta, mas em menos de um ano a colombiana já estava competindo.

Contudo, quando começou a disputar competições dentro de seu país, Mariana Pajón acabou encontrando um problema. No meio da década de 90, a atleta era a única menina que praticava e competia em torneios de Ciclismo BMX. Por conta disso, a hoje bicampeã olímpica tinha que competir entre os homens, mas hoje relembrando o que acontecia, Pajón vê como um diferencial em sua carreira.

“Quando comecei a competir eu era a única mulher na Colômbia, então eu disputava com os homens e isso me ajudou muitíssimo a subir o nível, pois me comparava com eles. Então quando competia internacionalmente era mais fácil e isso me ajudou em muitas fases da minha carreira”, comentou Mariana Pajón.

O Sonho olímpico

Tudo começou em 2008. Então com 17 anos, Mariana Pajón já colecionava títulos de expressão nas categorias de base do Ciclismo BMX pela Colômbia ao redor do mundo e começou sua preparação para a edição dos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres. Durante o ciclo, a colombiana conquistou o título mundial júnior em duas oportunidades, 2008 e 2009, e venceu o adulto em outras duas vezes, em 2010 e 2011.

Com os resultados obtidos no ciclo olímpico para Londres, a ciclista colombiana chegou em sua primeira participação em Jogos Olímpicos, então com 21 anos de idade, como a esperança da primeira medalha de ouro de seu país na história. Por conta disso, a Colômbia deu para Mariana Pajón a tarefa de ser a porta-bandeira na cerimônia de abertura da competição, o que foi a primeira conquista da ciclista.

“A Olimpíada de Londres mudou a minha vida. Foi algo muito bonito porque foi um sonho se transformando em realidade, estar na vila olímpica, vivendo os jogos. Ser a porta-bandeira do meu país na abertura foi meu primeiro ouro. Na competição em si, tudo foi perfeito e consegui a medalha de ouro”, disse a ciclista colombiana.

Com o título olímpico conquistado, colocando o seu nome na história da Colômbia, Mariana Pajón tinha um novo desafio: se manter no topo. Diferente do que aconteceu no ciclo anterior, a ciclista passou os quatro anos disputando torneios na categoria adulta e venceu os quatro mundiais, chegando na Olimpíada disputada no Rio de Janeiro como a atleta a ser batida e podendo colocar seu nome na história.


“No Rio de Janeiro, foi muito emocionante. Quando se ganha a primeira, você sabe que pode voltar a ser campeã, mas a pressão é muito maior. Mas, quando eu cheguei na vila olímpica em 2016, me senti em casa. Havia muitos latinos presentes, muitos colombianos na torcida e a pista dos Jogos Olímpicos no Brasil é a melhor que eu já andei na vida. Todo o trabalho de uma vida é colocado a prova em 35 segundos e voltar ao lugar mais alto do pódio olímpico foi maravilhoso”, disse a atleta.

Com a conquista das duas medalhas de ouro, Mariana Pajón marcou a história da Olimpíada. A ciclista se transformou na primeira atleta da Colômbia com dois títulos olímpicos na história e também é a primeira sul-americana a realizar o feito em esportes individuais na história dos Jogos Olímpicos.

Hoje, com mais de 15 títulos mundiais, entre categorias de base e adulto, dois títulos olímpicos, o nome na história do esporte mundial e o apelido de “rainha do BMX”, Mariana Pajón segue competindo e escrevendo mais vezes seu nome. Não mais pelas medalhas, não pelos troféus, não pelas conquistas, mas por algo que faz a atleta siga treinando cada vez mais.

“Eu creio que quando se vence uma Olimpíada você já está na história. Mas eu treino para seguir sendo a melhor, já ganhei tudo que poderia ganhar no BMX, mas sigo treinando pois é a minha paixão, não só pelas medalhas ou pelo títulos. A lesão que eu tive me deixou afastada 1 ano e eu senti falta de treinar, competir, representar a Colômbia, de fazer o meu trabalho, que ao mesmo tempo é minha grande paixão”, comentou a atleta.


Diferente do que aconteceu nos dois ciclos olímpicos que acabou terminando com a medalha de ouro, Mariana Pajón teve um novo cenário para enfrentar neste rumo a Tóquio. Por causa da grave lesão, a ciclista da Colômbia acabou perdendo uma parte dos torneios que começaram a dar pontos para a Olimpíada de Tóquio, em 2020. Com um pouco mais de um ano para mais uma edição dos Jogos Olímpicos, Mariana Pajón sabe o que precisa para tentar a terceira medalha de ouro seguida.

“Agora que consegui voltar, vou treinar e competir em tudo que é possível, fazendo todo o esforço, para conseguir classificar para Tóquio, sei que é um processo, que estou longe do 100%, mas 2020 é uma meta e é algo muito importante para mim”.

 

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Recado para as próximas gerações

Não é de se estranhar que Mariana Pajón seja uma mega estrela de seu país e da modalidade. Durante as competições, como aconteceu no Pan-Americano e na Copa Latino-Americana de ciclismo BMX, não são poucas as vezes em que a atleta da Colômbia se vê cercada de crianças, jovens e até adversários de provas que pedem uma foto, para guardar de recordação da bicampeã olímpica.

Sabendo da importância que tem para a modalidade e da referência que é para a grande maioria dos praticantes de ciclismo BMX, Mariana Pajón passa um recado para todos aqueles que pensam, não só em seguir em sua modalidade, mas em qualquer esporte.

“Para todas as crianças, que estão começando em qualquer esporte, espero que tenham sonhos grandes, que acreditem que possam e lutem para que consigam realizar estes sonhos, por que é preciso. Mas acima de tudo, desfrutem, aproveitem o processo”

 

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