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Badminton

Convocação para o Pan gera revolta de atletas contra CBBd

Vários atletas, entre eles Ygor Coelho, principal nome do país, criticaram a convocação feita por Marco Vasconcelos para o Pan-Americano de badminton

A Confederação Brasileira de badminton (CBBd) divulgou na terça-feira a convocação para a disputa do Campeonato Pan-Americano, que será disputado entre 26 e 29 de abril, na Guatemala. A lista, no entanto, não foi bem recebida e considerada injusta por boa parte dos jogadores do país por causa da presença de dois jovens, Fabrício Farias, de 17 anos, e Jaqueline Lima, de 16, com pouquíssima experiência em torneios adultos, e também de Luana Vicente, convocada para as duplas, mas que há mais de um ano não participa de nenhuma competição.

Logo que os nomes foram divulgados, maior nome do badminton brasileiro, Ygor Coelho se manifestou em suas redes sociais. “Onde está o respeito com todos os atletas que disputam o nacional? Lamentável isso! Sei que eu sou atleta de alto rendimento, mas não consigo não ficar chateado com essa situação!!!”, escreveu. Em seguida, em entrevista ao Olimpíada Todo Dia, pegou ainda mais pesado nas críticas. “Acho que é uma Seleção por escolhas do presidente e não por mérito. Não é meritocracia, é burocracia. Eu estou muito chateado porque é uma falta de respeito com o Brasil inteiro. Por isso que muitas pessoas desistem de jogar o nosso esporte. Eu acho que com os Jogos Olímpicos apareceram novos atletas, mas também várias pessoas desistiram porque sabem que o sistema é podre. Essa é a verdade!”, reclamou o atleta.

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Convocação de Fabrício Farias para o Pan-Americano é uma das principais polêmicas da lista feita pelo técnico Marco Vasconcelos

Superintendente da CBBd, Beto Santini defende que tudo foi feito dentro das regras aprovadas pelos presidentes de todas as federações. “O regulamento técnico da confederação, que está disponível no site, votado pela maioria dos presidentes e aprovado no Encontro Nacional de Badminton em 2016, foi uma sugestão na época da comissão de atletias e diz que o critério para a definição dos participantes no Campeonato Pan-Americano é convocação. E convocação é aspecto técnico, de análise de performance, de comparação do técnico da Seleção Brasileira e ele convoca os atletas que ele entende que compõem a melhor formação naquele momento com os objetivos que a Confederação tem naquela demanda, no caso o Campeonato Pan-Americano. Obviamente que todo processo de convocação gera satisfação de um lado e insatisfação de outro. Isso é normal em qualquer modalidade. Injusto e ilegal é a gente não seguir regulamento. E estamos seguindo o regulamento”, acredita o dirigente.

Foram convocados oito atletas, que terão as despesas de transporte, hospedagem, alimentação e inscrição bancados pela CBBd. No masculino, as presenças de Ygor Coelho, melhor atleta brasileiro da história e atual 30º. colocado no ranking mundial, e Artur Pomoceno, líder do ranking nacional, são incontestáveis, assim como de Fabiana Silva, melhor brasileira no ranking mundial adulto. Já Matheus Voigt, que forma com Pomoceno a dupla brasileira melhor colocada no ranking, vai para o Pan como duplista. Os nomes mais questionados mesmo são os de Fabrício Farias e Jaqueline Lima, além das irmãs Lohaynny e Luana Vicente.

Mateus Cutti ficou de fora da convocação, mas vai participar do Pan porque o Pinheiros vai bancar as despesas

“Fiquei chateado com a convocação e realmente não entendi o porque de chamarem um menino Sub-19 no meu lugar para jogar um campeonato adulto, sendo que sou o atual campeão brasileiro”, reclama Mateus Cutti, de 22 anos, que acabou preterido para dar lugar a Fabrício Farias. Apesar de não estar na convocação da CBBd, o nome dele aparece na lista de classificados para Pan-Americano, mas, para participar terá que arcar com os custos detransporte, hospedagem e alimentação, que serão bancados pelo Pinheiros, clube que ele defende. “Fico feliz por ter classificado sem depender da Confederação e tenho que agradecer por estar no maior clube esportivo do Brasil, que tem recursos para me levar para o Pan”.

Fazem parte dessa lista de classificados, além de Mateus Cutti, Bianca de Oliveira Lima, no feminino, Francielton Farias/Luiz Henrique dos Santos Jr e Mariana Pedrol/Thalita Correa nas duplas e Luiz Henrique dos Santos Jr/Mariana Pedrol nas duplas mistas, mas não se sabe ainda se todos poderão participar por causa dos altos custos.

A justificativa para a convocação de Fabrício Farias e Jaqueline Lima não tem nada a ver com nenhuma competição adulta e sim com os Jogos Olímpicos da Juventude, que serão disputados em Buenos Aires no segundo semestre. “O Fabrício Farias é o 26 do mundo juvenil e a Jaqueline Lima é 58. São resultados significativos e que essa competição do Pan-Americano adulto pode ajudá-los com a pontuação a garantir vaga nos Jogos Olímpicos da Juventude porque o período de classificação termina agora no final de abril. Ou seja, essa competição pode definir os atletas como classificados para os Jogos Olímpicos da Juventude. E a gente não tem nenhum outro atleta juvenil em condições de classificação. Se tivéssemos mais dois atletas juvenis, na mesma situação que eles, com condições de brigar pela classificação para os Jogos Olímpicos da Juventude, eles com certeza seriam convocados”, explica Beto Santini.

Marco Vasconcelos explica que optou por chamar Fabrício Farias e Jaqueline Lima para ajudá-los na classificação para os Jogos da Juventude

O argumento, no entanto, é rebatido por Ygor Coelho, que representou o Brasil na Olimpíada da Juventude em Nanjing, em 2014.  “Eu sei que esse Pan-Americano é muito importante para o Fabrício por causa dos Jogos Olímpicos da Juventude, mas como é uma seleção adulta deveria ser formada por adultos”, reclama. Para Ygor, os mais jovens até poderiam fazer parte da Seleção e ir para o Pan, mas desde que provassem ser melhores que os adultos. O atleta defende a ideia de que uma seletiva seria o ideal para definir os representantes. “Eu poderia até voltar para o Brasil para jogar a seletiva se eles quisessem”, garante. “Seletiva seria mais justo se todos os atletas participassem dela”, concorda Mateus Cutti.

Apesar da proposta dos atletas por uma escolha menos subjetiva, não é isso que diz a regra vigente e a convocação foi responsabilidade do técnico português Marco Vasconcelos, que desde 2013 dirige a Seleção Brasileira. “É importante termos dois atletas na Olimpíada da Juventude. É interesse nacional. É interesse da modalidade. É importante para a visibilidade positiva do nosso esporte. Além disso, esses dois atletas têm uma margem de progressão grande e nós queremos trabalhar com esses atletas a longo prazo”, explicou o português, que usou como argumento também os Jogos Pan-Americanos de 2019, que serão disputados em Lima, no Peru.

“Nós estamos pensando lá na frente para construir e preparar um time para os Jogos Pan-Americanos. É nesse conceito que estamos trabalhando também com atletas mais jovens para daqui um ano estar com um time competitivo para atingir os objetivos. O que pouca gente sabe é que o Pan-Americano desse ano vale 5500 pontos e só podem jogar atletas da área pan-americana. É uma vantagem que nós temos de não enfrentar asiáticos e não ter europeus em um torneio com tanto valor. Então, temos que aproveitar o campeonato para pensar não só no momento atual como no que vem a seguir. Não existem regulamentos perfeitos e às vezes não existem decisões perfeitas, mas temos que olhar lá na frente. No ciclo passado, encontrei um grupo já formado, com alguns problemas técnicos e táticos e com atletas com idades um pouco avançadas e foi difícil trabalhar com esses atletas, mudar alguns hábitos, mas era o que nós tínhamos e foi com eles que nós trabalhamos”, comparou.

Jonathan Matias foi um dos poucos que teve oportunidade de enfrentar Fabrício Farias no ano passado: uma vitória para cada lado

O detalhe é que os preteridos também são jovens. Mateus Cutti tem 22 anos e Cleyson Nobre do Santos tem 19. Outro que manifestou sua indignação é Jonathan Matias, de 19. “Batalho todo dia para crescer no badminton. Sou o atual número 1 do ranking nacional sub-19, prata no pan-americano e bronze no sul-americano dessa categoria. Ver que eu não fui selecionado, mas que outro atleta da minha categoria foi só porque ele teve dinheiro para competir lá fora me desmotiva muito. Para que batalhar se depois vem essas convocações subjetivas?”, questionou em uma postagem nas redes sociais.

Diferente dos outros, Jonathan Matias teve a oportunidade de jogar duas vezes contra Fabrício Farias no ano passado. Ambas as partidas foram equilibradas e definidas apenas depois de três sets. Na primeira, Jonathan venceu na etapa de São Paulo e depois conquistou o título. Na segunda, Fabrício deu o troco e depois também avançou para ser campeão da etapa de Teresina. Os resultados mostram que os dois têm níveis muito semelhantes. A questão é que Fabrício foi competir fora do país e não participou das outras duas etapas do circuito, que foram vencidas do Jonathan, que se garantiu na primeira colocação do ranking com três títulos em quatro etapas disputadas. Mas a liderança de nada valeu na hora da escolha dos convocados.

Nos bastidores do badmiton, a acusação é a de que Fabrício Farias e Jaqueline Lima sejam “protegidos” da CBBd. Ambos competem pelo Joca Claudino, clube da cidade de Teresina, mesmo local onde fica a sede da Confederação. Segundo os atletas ouvidos pelo Olimpíada Todo Dia, os dois foram os únicos que tiveram condições de viajar e competir fora do país a ponto de conseguir posições no ranking mundial que os deixaram na briga pelas vagas nos Jogos Olímpicos da Juventude. Ao todo, eles disputaram 11 torneios internacionais. A entidade, no entanto, nega qualquer tipo de favorecimento.

“Quem está pagando as custas desses dois atletas é o clube deles, o Joca. A Confederação não paga nada. Acabamos de aprovar a prestação de contas de 2017 por unanimidade. Não tem nenhum custo coberto pela CBBd. O badminton tem que entender que os clubes devem investir. A Confederação não é a mãe de tudo, a Confederação não tem recursos, com R$ 2 milhões por ano, para sustentar todos os atletas que tenham desejo de competir no circuito”, garante Beto Santini.

Outro motivo de reclamação foi a presença de Luana Vicente entre as convocadas. Quem reclamou dessa vez foi Thalita Correa, primeira colocada no ranking de duplas junto com Mariana Pedrol. “Gostaria de saber o que um atleta que esta em 1° lugar do ranking brasileiro, que participa de todos os torneios de forma exemplar, obtendo resultados dentro e fora de quadra, que não usa de má fé com seus adversários e companheiros, que não precisa se expor de forma humilhante e que nunca questionou a administração do CT (Centro de Treinamento) precisa para ser convocada para um torneio? E como uma atleta que esta há muito tempo parada pode utilizar toda a infraestrutura do CT da CBBd (técnicos, quadra, petecas) que era para estar disponível apenas para treinamento de atletas que fizeram por merecer estar ali? Perdi a vaga do Pan para uma atleta que não joga há mais de um ano. Isso tudo é ridículo, como conseguem fazer isso com atletas que realmente se dedicam? Isso é desanimador para qualquer atleta porque sabemos que por mais que treinemos e se dediquemos, jamais vamos ser convocados. Isso tudo devido a algum luxo de vocês com a atleta Luana Vicente que nao valorizou as oportunidades que teve, e vocês sabem disso. Não tenho nada contra a atleta citada acima, este singelo texto está destinado à péssima administração que temos no badminton deste país chamado Brasil”, postou a jogadora.

As irmãs Luana e Lohaynny Vicente conquistaram juntas a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015

Luana é irmã de Lohaynny Vicente, que foi a representante do Brasil nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. As duas, juntas, conquistaram a medalha de prata nas duplas nos Jogos Pan-Americanos de Toronto em 2015. No ano seguinte, no entanto, Luana se envolveu numa grande confusão. Ela foi acusada de furtar o cartão de uma colega dentro da concentração da Seleção Brasileira, em Campinas. O caso gerou uma punição à atleta, que foi suspensa pelo STJD da CBBd por duas competições. Agora, depois de mais de um ano sem disputar uma competição, ela foi chamada de volta para representar o país.

“A Luana é uma atleta que tem um potencial enorme no badminton. Ela está realmente sem competir há um ano, mas atendendo aos objetivos e metas bem definidas que temos, achei que ela está dentro dos critérios técnicos e táticos para compor esta equipe que vai ao Pan-Americano, pensando no objetivo final que são os Jogos Pan-Americanos de 2019. Acredito que no atual momento não temos atletas para renovar a Seleção feminina adulta, especialmente a dupla formada pela Luana e pela Lohaynny. Ainda não temos outras atletas, além delas, que possam jogar essa disciplina e brigar por um lugar no pódio. Apesar de termos tido problemas com a Luana, nós decidimos dar a ela uma oportunidade de ser integrada nos trabalhos da Seleção e de realmente mostrar o potencial que ela tem”, explicou o técnico Marco Vasconcelos.

Lohaynny Vicente está de volta à Seleção depois de fazer uma cirurgia nos seios e de ficar seis meses na Dinamarca

Aliás, a própria convocação de Lohaynny Vicente é polêmica. Melhor atleta brasileira no último ciclo, tanto que foi a representante do país na Olimpíada do Rio de Janeiro, ela mal competiu em 2017, quando terminou apenas na 15ª. colocação no ranking nacional. Perdeu os primeiros meses do ano por causa de uma cirurgia para a redução dos seios e depois passou seis meses na Dinamarca, autorizada pela CBBd, para tentar desenvolver seu jogo. A seu favor, no entanto, está o fato dela ter sido campeã em Teresina, na única etapa que disputou do circuito nacional no ano passado.

“A cirurgia foi feita porque a equipe médica tinha identificado que seria necessária pelo simples fato de prejudicar o rendimento da atleta e depois concordamos com a ida dela à Dinamarca porque é um dos países mais desenvolvidos na modalidade. Mas ela não gostou muito da experiência e voltou, está conosco e é, assim como a Luana Vicente, uma atleta jovem, tem 21 anos, apresenta níveis táticos, técnicos e físicos excelentes, ainda está no auge da sua carreira e ainda não encontrei uma atleta com capacidade de substituí-la na seleção nacional”, defendeu o treinador, que, apesar das escolhas feitas, não fechou as portas para outros atletas representarem o país.

“Nós temos que preparar uma equipe homogênea com atletas adultos e jovens para podermos ter uma transição entre o ciclo de 2016 a 2020 para o ciclo de 2020 a 2024. Nosso objetivo é formar atletas mais jovens e trazer para a Seleção. Mas este foi um momento pontual. Esta não é a Seleção permanente, que fique bem esclarecido. É um momento pontual, o Pan-Americano de 2018, na Guatemala. Depois, na Seleção permanente serão dadas oportunidades aos atletas que estão insatisfeitos de correr atrás de um lugar nas convocações internacionais”, prometeu Marco Vasconcelos.

O plano técnico é contar com 24 atletas na Seleção permanente, mas dificilmente será possível cumprir. Por conta da queda de investimento em relação ao ciclo para 2016, é provável que essa equipe tenha, no máximo, entre 10 e 12 atletas. O trabalho vai se iniciar em junho, após a disputa dos Jogos Sul-Americanos. Até lá, a Seleção também terá uma nova sede. A equipe vai deixar Campinas e o acordo com uma nova cidade está prestes a ser anunciado. É fato também que o CT construído em Teresina ainda não será utilizado porque está inacabado. Ainda falta a colocação de ar condicionado para que o local tenha condições de abrigar os treinamentos da Seleção principal.

Além disso, o superintendente Beto Santini revelou que, por sugestão da CBBd, uma nova regulamentação para a formação da Seleção Brasileira foi votada e aprovada no Encontro Nacional de badminton, que terminou nesta quarta-feira em Foz do Iguaçu. “É uma regulamentação mista entre o que era e o que ficou e vai ser divulgado posteriormente e com aplicação já para 2019. Foi aprovada por 15 dos 17 presidentes presentes no momento da votação”, contou o dirigente, sem revelar exatamente o que vai mudar.

Fundador e diretor de conteúdo do Olimpíada Todo Dia

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