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Badminton

Equipe Miratus distribui chocolate em favelas rivais do Rio

Jogadores de badminton da comunidade da Chacrinha levaram alegria para crianças da Bateau Mouche

Equipe Miratus de Badminton distribuiu chocolate em favelas na Páscoa - presidente Sebastião
Equipe Miratus distribuiu 5 mil chocolates nas favelas da Chacrinha e do Bateau Mouche (Divulgação)

“Fazer o bem sem olhar a quem”. Foi com esse pensamento em mente que Sebastião Dias de Oliveira, fundador da Equipe Miratus de Badminton, decidiu enfrentar uma rivalidade entre favelas do Rio de Janeiro para levar chocolate às crianças no domingo de Páscoa.

Fundada em 1998, a Miratus Badminton está localizada na favela da Chacrinha que fica em frente à comunidade do Bateau Mouche, rivais no tráfico de drogas há anos. Depois de receber doação de 5 mil coelhos de chocolate para comemorar a Páscoa, Sebastião reuniu os jogadores da equipe e saíram todos para distribuir os doces.

“Era muito chocolate! Fiquei olhando lá pra outra comunidade (Baeteu Mouche) e pensei ‘quantas pessoas lá não gostariam?’ Não conheço ninguém do outro lado. Mas, na cara e na coragem, entrei na comunidade. Fomos lá com nossa galera, todo mundo uniformizado e fizemos nossa parte. Fiquei emocionado”, contou Sebastião de Oliveira, que é pai do jogador Ygor Coelho.

Invasão de solidariedade

Apesar da rivalidade entre as comunidades, a Equipe Miratus foi bem recebida pela ação. A “invasão”, como Sebastião brincou, recebeu um “contra ataque” de muitos sorrisos, carinho, amor e gratidão.

“Foi uma festa, uma correria. Saía gente de todos os becos para ter a oportunidade de pegar o chocolate”, contou.

Equipe Miratus fez a alegria das crianças na Páscoa (Divulgação)

Os jogadores de badminton, então, retornaram a própria comunidade da Chacrinha e fizeram mais festa para as crianças que jogavam futebol nos campinhos. “Vários saíram gravemente atingidos com rajadas de solidariedades, e jamais esquecerão dessa tragédia de amor, pois raramente recebem esse tipo de tratamento”, brincou o anúncio da ação social, fazendo proposital referência aos textos policiais.

Apesar do tom de brincadeira, Sebastião sabe bem a importância que um projeto como a Miratus pode ter na vida de crianças que vivem em comunidades cercadas pelo tráfico de drogas.

“A imprensa, a polícia, o Estado, eles entram na história naquela parte onde a pessoa já está formada. Nós temos que entrar lá aos 6 anos, antes do tráfico descobrir. Temos que dar oportunidades, criar situações para que eles possam ficar focados numa coisa que é benéfica”, explicou.

“As crianças são a matéria prima dentro da favela, então se você investir nelas fica muito mais barato lá na frente, fica bom para a sociedade, e a sociedade não entende isso. As crianças que roubam seu carro, por exemplo, são as vítimas. Porque quem deu a oportunidade a elas foi o tráfico, o Estado não deu oportunidade. Aquele garoto queria um ovo de páscoa, mas não tinha”, explicou Sebastião.

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Jogadores da Miratus organizaram as crianças para fazer a entrega dos chocolates (Divulgação)

Fazendo a diferença

Além de chegar na criança antes que o crime organizado, entidades sociais como a Miratus buscam também ajudar a comunidade como podem. Em tempo de quarentena por conta do coronavírus, a realidade em favelas é muito diferente.

“Quarentena? Que quarentena? Viver de água dentro de casa? Não existe quarentena dentro das favelas. As pessoas ficam pra cima e pra baixo tentando arrumar o que comer, correndo pro Ceasa pegar xepa”, contou Sebastião.

Fundador da Miratus, Seu Sebastião tenta fazer a diferença na favela da Chacrinha (Divulgação)

Por isso, o próprio presidente da Miratus Badminton corre para ajudar sua comunidade com uma campanha de arrecadação de cestas básicas. “Se minha comunidade está correndo atrás de alimento, eu estou correndo junto com ela”, resumiu.

Até agora, eles já conseguiram sete toneladas de alimentos. São mais de 500 pessoas esperando oportunidade de pegar uma cesta na Chacrinha.

“Tem muita gente desesperada dizendo ‘me ajuda moço’. Gente que não tem nada pra comer, que trabalha como empregada doméstica. Mas não posso sair entregando para não ter aglomeração, então estou ligando pras casas até 1h para combinar o horário pra entregar as cestas básicas para as pessoas”, contou Sebsatião.

“Eu estou me expondo, mas estou muito feliz com a oportunidade. Você não sabe como é ver o sorriso das pessoas quando pegam a cesta básica, dizendo ‘muito obrigado’”, afirmou.

Sobre os elogios que recebe, seu Sebastião é firme: “Eu não sou nada, sou apenas um elo de ligação entre quem precisa e quem pode ajudar.”

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