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Atletismo

André Domingos relembra início difícil e realização do sonho

O dono de duas medalhas olímpicas contou sobre as dificuldades que enfrentou e a superação para seguir realizando o sonho de ser atleta

André Domingos - Revezamento 4x100 m - sonho - Atlanta 1996
André Domingos foi bronze em Atlanta-1996 e prata em Sydney-2000 (Divulgação)

“Passei fome, pedi esmola, tive convite para vender droga, fazer um monte de coisa errada, mas eu tinha o sonho de ser atleta”. Este é André Domingos, duas vezes medalhista olímpico no revezamento 4 x 100 m. Quem olha para seu currículo vitorioso, no entanto, não imagina quanta superação ele precisou ter para chegar onde chegou.

E tudo começou quando ele se viu em Robson Caetano. “Quando eu vi ele, falei que queria fazer aquilo (atletismo). Nem sabia o que era, mas quando eu vi outro negros lá, como eu, correndo, quis fazer igual”, contou André em live da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).

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André começou a praticar atletismo ainda na escola em Santo André (SP), onde foi descoberto. Seu diretor escreveu uma carta para o Sesi da cidade, clube que virou a casa do ainda pequeno atleta.

E foi lá que sua vida mudou. “Sou filho de empregada doméstica, com muito orgulho, e não tinha condição nenhuma quando era criança. Ganhei minha primeira cesta básica no Sesi e nunca vou esquecer… Quando eu cheguei em casa foi uma felicidade muito grande da minha mãe, dos meus irmãos. Foi ali que pensei: ‘olha, o que o esporte está me dando, me proporcionando’. Foi quando eu caí em mim e entendi que eu poeria mudar a minha vida através do esporte”, relembrou André.

Superando as adversidades

Para chegar onde chegou, André Domingos precisou superar diversos obstáculos. Mas para ele, são esses obstáculos que permitiram que ele alcançasse seus sonhos.

“Passei fome, pedi esmola, tive convite para vender droga, fazer um monte de coisa errada, mas eu tinha o sonho de ser atleta. E tive muita gente que me apoiou, minha mãe, fã número um, sempre acreditou. E sempre que olho para os meus pés, lembro de quando minha mãe chegou da casa da patroa com dois pares de tênis. Eu não tinha tênis, corria descalço e fiquei feliz para caramba”, recordou.

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“Mas os tênis eram duas numerações a menos que o meu pé. Eu reclamei, falei que estava apertado e minha mãe falou algo que eu nunca vou esquecer: ‘filho, pé de pobre não tem tamanho’. Eu usei eles e hoje meus dedos tem forma de garra. Mas foram aqueles tênis que me fizeram acreditar que eu podia. Para chegar lá, tem que ter humildades e valorizar o que tem”, completou.

Realizando o sonho

E ele chegou lá. Depois de muito esforço, André Domingo fez história no esporte brasileiro. Em Atlanta-1996, ele voltou para casa com a medalha de bronze, a primeira na história do Brasil no revezamento 4 x 100 m, ao lado de Arnaldo Oliveira, Edson Luciano e o ídolo, Robson Caetano.

Se engana quem pensa, no entanto, que o Brasil era favorito. Pelo contrário, era o “patinho feio” daquela final, como o próprio André definiu.

“A gente não tinha ganhado nada até então, nenhum título de expressão no revezamento 4 x 100 m. Uma medalha olímpica estava longe dos nossos ideais. Só que a partir do momento fomos melhorando nossas marcas, batemos o recorde sul-americano duas vezes… a gente começou a acreditar”, contou.

André Domingos - Revezamento 4x100 m - atlanta 1996 - sonho
André Domingos tem duas medalhas olímpicas (Divulgação)

“E aí fomos com tudo para a final. Chegou no dia, era o último dia de Atlanta-1996. O Brasil não tinha ganhado nada no atletismo, era a única chance que tinha. Uma chance que dependia de segundos… E a gente fez 38s41 e levamos o bronze. Foi uma festa muito grande, dormi com a medalha, não queria soltar por nada! Eu não estava acreditando”.

E como se não bastasse o bronze, André Domingos continuou acreditando e conquistou a prata quatro anos depois, em Sydney-2000. Ao todo, participou de quatro Olimpíadas e ainda foi bicampeão dos Jogos Pan-Americanos (1999 e 2003).

A melhor marca de André Domingos é nos 100m (10s06) é a terceira melhor de todos os tempos no Brasil, atrás apenas dos 10s00 do seu ídolo Robson Caetano, registrado em maio de 1988, e de Paulo André Camilo, que já correu para 10s02 e 10s04.

“Se você não sonhar, como é que vai realizar? Como você vai correr atrás do sonho se não acreditar? As dificuldades vêm para mostrar que você pode superar e realizar o sonho. Eu tive que ser gigante”, concluiu.

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