Siga o OTD

Tóquio 2020

Augusto Dutra vê adiamento com bons olhos e quer medalha

Ainda se recuperando de cirurgia no dedo, atleta do salto com vara comemorou ano a mais de preparação para Olimpíada

(Reprodução/Instagram)

A maioria dos atletas concordou com o adiamento dos Jogos de Tóquio para 2021 devido à pandemia do coronavírus. Para Augusto Dutra, do salto com vara, a decisão foi comemorada ainda mais por um motivo particular de saúde.

“Desculpa o pessoal que se preparou, mas para mim foi bom porque eu rompi o tendão de um dedo da mão esquerda e tive que fazer cirurgia. Já estou saltando normal, mas eu não ia para o Mundial da China esse ano por conta disso. Não tinha conseguido me preparar o suficiente”, contou o atleta em live feita no Instagram do Olimpíada Todo Dia, nesta sexta-feira (10).

“O legal agora é que a gente tem mais tempo para treinar, corrigir os erros e se preparar mais para os Jogos”, projetou o atleta de 29 anos.

Depois de uma fase ruim, especialmente na disputa dos Jogos do Rio, em 2016, Augusto passou a recuperar seu bom desempenho e vive, segundo ele, o melhor momento da carreira.

Entre 2018 e 2019, conquistou três ouros consecutivos em torneios relevantes pelas Américas: Jogos Sul-Americanos e Campeonato Ibero-Americano, em 2018, além do Campeonato Pan-Americano da modalidade, em 2019.

Ficou também com a medalha de prata nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no ano passado, o primeiro Pan da carreira. Em agosto ainda ficou em segundo lugar no Meeting de Paris, válido pela Liga Diamante, o mais importante circuito de competições da World Athletics, a associação internacional das federações de atletismo.

Vivendo melhor momento da carreira, Augusto se mostra confiante para Tóquio (Wagner Carmo / CBAt)
Vivendo melhor momento da carreira, Augusto se mostra confiante para Tóquio (Wagner Carmo / CBAt)

Retomar técnica e confiança

Natural de Marília, no interior de São Paulo, Augusto Dutra teve a melhor marca em 2013, aos 23 anos de idade, saltando 5,82 m. Mas, em 2014, uma torção no pé afetou o desempenho e as marcas começaram a desabar. Na disputa dos Jogos do Rio, o atleta admite que não estava bem.

“Nesse período eu tive algumas complicações no meu treinamento, não estava mais me encontrando, não estava sabendo treinar minha técnica. Nas Olimpíadas eu estava na minha pior fase”, lembrou.

Depois de algumas mudanças de treinadores, Augusto foi atrás de um clube que pudesse auxiliá-lo também financeiramente. Foi aí que conseguiu ingressar no time de atletismo do Clube Pinheiros e passou a treinar com Henrique Camargo. Era a retomada da confiança que estava faltando.

“Eu melhorei, ele me colocou de volta naquela sensação que eu tinha antes. Minha técnica antes era correr rápido, chegar rápido, mas chegou um momento que comecei a me perder. Aí o Henrique começou a me mostrar onde eu tinha que acelerar e isso me ajudou e voltei melhor do que antes”, afirmou o atleta, que ainda explicou a complexidade da prática com o salto com vara. “Além de correr com peso na mão, fazer o movimento certo, colocar no encaixe, pra depois fazer a parte área, você tem que juntar tudo isso num tempo menor do que 10 segundos, é muito difícil. Claro que treinando a gente consegue, mas às vezes a gente não se encontra no treino e isso reflete nas competições.”

+INSCREVA-SE EM NOSSO CANAL NO YOUTUBE

Companheiros de esporte e cidade

Com quatro anos de diferença e também natural de Marília, Thiago Braz, medalhista de ouro na Rio-2016, já cruzou com Augusto Dutra diversas vezes no esporte. “Tem bastante atleta de Marilia, é a água da cidade”, brincou Augusto, que inclusive teve o tio de Thiago como um dos primeiros treinadores.

Atualmente na 5ª posição do ranking mundial do salto com vara, Braz não teve resultados expressivos depois da conquista do ouro no Rio de Janeiro.

“Assim como eu, às vezes a gente chega num limite da técnica. Salto com vara é muito complexo, é uma prova muito difícil, precisa de muita cabeça”, explicou Augusto. “Às vezes a gente estaciona e se reencontra de novo, não dá para explicar.”

Atual 5º melhor do mundo no salto com vata, Thiago Braz também nasceu em Marília
Atual 5º melhor do mundo, Thiago Braz também nasceu em Marília (Wagner Carmo/CBAt)

Augusto Dutra encontra-se atualmente na nona posição do ranking da modalidade. Assim como o amigo evoluiu em 2015 para saltar 6,03 m nos Jogos do Rio, Augusto espera mostrar que a evolução que apresentou em 2019 também pode render frutos.

“Eu me baseio bastante no Thiago, a gente saiu da mesma cidade, treinamos no mesmo lugar. Não tem segredo. O segredo é treinar e focar totalmente”, projetou.

Sonho olímpico

Agora, a meta de Augusto Dutra é melhorar sua técnica ao máximo para chegar bem nos Jogos de Tóquio. Além do próprio Thiago Braz, Dutra tem adversários complicados na disputa. O principal deles é o sueco Armand Duplantis, de apenas 20 anos.

“Ele está batendo recorde mundial como se fosse nada. Eu nunca vi isso”, admite o brasileiro. “Para baterem o recorde do Serguei Bubka foram anos e agora esse menino vem e salta como se fosse nada.”

Sueco Armand Duplantis é o saltador a ser batido na atualidade (World Athletics )
Sueco Armand Duplantis é o saltador a ser batido na atualidade (World Athletics )

Apesar da briga complicada, Dutra sabe as metas que precisa alcançar para conquistar um pódio. No ano passado, ele saltou 5,80 m.

“Eu acredito que tenha que chegar a 5,90 m, 5,95 m, ou 6 m. Com essas marcas eu fico em 2º ou 3º. O Duplantis vai saltar para bater o recorde de novo,” ri o saltador. “Eu já saltei 6 metros em treino, duas vezes. Uma em 2014, antes de machucar, e outra no começo do ano passado. Só que treino é treino, né? Mas acredito que com mais um ano com a técnica nova eu esteja apto a voar alto e conquistar uma medalha.”

Sonho maior ainda seria se essa possível medalha viesse numa dobradinha brasileira no pódio japonês.

“O Thiago tinha 5,93 como recorde e saltou 6,03 nas Olimpíadas do Rio, dez centímetros que ele fez do nada. Então é possível, dá para repetir o feito dele. Inclusive ele mesmo consegue refazer e ganhar medalha de novo.  Imagina uma dobradinha nossa, que beleza? É um sonho possível.”

Mais em Tóquio 2020