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Massacre de Munique-72 marca o fim da inocência nos Jogos Olímpicos

Os 45 anos do atentado e morte dos 11 atletas de Israel relembram um dos fatos mais tristes na história olímpica. Os Jogos nunca mais foram os mesmos

A agitação desta terça-feira, quando Carlos Nuzman foi colocado na rota da compra de votos para a Rio-2016, acabou deixando passar uma importante efeméride na história das Olimpíadas. Há 45 anos, no dia 5 de setembro de 1972, os Jogos Olímpicos viveram aquilo que se pode chamar de “fim da inocência”. Um sequestro mal-sucedido e uma tentativa de resgate igualmente atrapalhada acabaram resultando na morte de 11 integrantes da delegação de Israel. O “Massacre de Munique” mudou para sempre a história das Olimpíadas.

Atualmente, em qualquer megaevento esportivo, a questão de segurança é tratada com prioridade absoluta. Quando se fala de Olimpíadas, com mais de 200 países e 10 mil atletas envolvidos, a neurose chega a beirar algo insano. Há 45 anos, a realidade era completamente diferente.

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Um clima mais relaxado, até para incentivar a confraternização entre os atletas, seguindo as tradições olímpicas, era algo natural em qualquer Vila Olímpica. Os alemães só não contavam com os planos de um grupo palestino de terroristas chamado “Setembro Negro”, que resolveu fazer em Munique, nos Jogos de 1972, uma de suas ações mais ostensivas.

A invasão no prédio de Israel deixou de cara dois atletas mortos, Os nove reféns ficaram sob a mira das metralhadoras dos terroristas durante toda aquele 5 de setembro, uma terça-feira. O governo israelense negou-se a negociar com os integrantes do grupo palestino e os policiais alemães tentavam ganhar tempo.

Após horas de muita angústia, os terroristas partiram para base aérea de Furtenfeldbruck, próxima a Munique. Ali, atiradores aguardavam para tentar neutralizar o grupo e libertar os reféns. Só que a tentativa de resgate foi um desastre completo e após um longo tiroteio que durou 45 minutos, os nove israelenses foram mortos, além de cinco terroristas e um policial alemão. Uma tragédia que manchou a história daqueles Jogos e provocou mudanças em todos os procedimentos de segurança dali em diante.

Dirigente brasileiro se ofereceu para o lugar dos reféns

Em 2012, na ocasião do 40º aniversário do Massacre de Munique, eu trabalhava no portal iG e fiz uma matéria, ao lado do colega Luís Araújo, para registrar a data. Um dos entrevistados foi o advogado paulista Alberto Murray. Neto de Sylvio de Magalhães Padilha, então presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil) e membro do COI (Comitê Olímpico Internacional), Murray contou um detalhe inédito para mim na época: Padilha havia se oferecido para integrar um grupo no lugar dos reféns, ao lado de outros integrantes do COI.

Abaixo, o relato de Murray na  época:

“No dia do atentado, quando cheguei ao hotel do COI com meus pais, pela manhã, meu avô já estava em reunião com a comissão executiva. Assim passou o dia inteiro, sem que pudéssemos ter acesso a ele. Ao longo dos anos, falando ele sobre o assunto, soube que os membros da comissão executiva tinham se oferecido aos terroristas em troca da liberdade dos atletas israelenses.

“O COI e o governo alemão ligaram para vários chefes de estado, indagando se aceitariam receber o avião com os terroristas. A primeira a ser contatada foi a Primeira Ministra de Israel, Golda Meir, que rechaçou qualquer tipo de negociação com os terroristas. Nenhum país aceitou recebê-los. Então, realmente não haveria alternativa senão combatê-los, o que poderia ocorrer desde a saída dos alojamentos até o embarque no avião. Nunca cogitou-se que aquele avião iria decolar com os reféns.

“Meu avô não era a favor da interrupção. E essa decisão não teve nada de dinheiro, pressão de patrocinador ou coisa parecida. Ele achava que a melhor resposta que o Movimento Olímpico poderia dar a atos terroristas era mostrar que aquilo não interromperia os Jogos. A interrupção dos Jogos poderia estimular outros atos políticos em outros momentos.

“Em 72, na Vila Olímpica, havia um espaço de convivência em que as pessoas podiam circular livremente e ter contatos com os atletas. O olimpismo sempre pregou isso, a mistura dos povos, a troca de experiências. Hoje não se pode pensar realizar esse tipo de competição sem muita segurança. Quem viu a Olimpíada até 1972 viu, quem não viu, não verá mais”.

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